terça-feira, 1 de abril de 2008

FAZEDORES DE TENDA FAZEDORES DE DISCÍPULOS.

GREENWOOD, John Philip. Fazedores de Tendas Fazedores de Discípulos. Londrina: Editora Descoberta, 2005 p.160

Philip John Greenwood reside no interior de São Paulo com sua esposa Jan e com seus filhos Luke Rebeca e Kathryn. Ele é formado em engenharia química na Inglaterra e durante 13 anos exerceu a sua profissão.

Ele e sua esposa são ingleses e são missionários da “Latin Link Europe” desde 1992 e trabalham com a Aliança Universitária do Brasil nas áreas de discipulado e ensino. Philip e Jan estudaram no curso de missões transculturais no “ All Nations Chistian College”, na Inglaterra.

Philip fez seu mestrado no campo da Teologia Prática aqui no Brasil na FTSA Faculdade Teológica Sul América na cidade de Londrina PR. Seu livro é baseado justamente na sua dissertação de conclusão do curso

O autor divide o seu livro em cinco capítulos que nos levam a ter uma consciência clara do ministério emergente dos “ fazedores de Tenda. O capítulo primeiro ele “ apresenta o ministério dos Fazedores de Tendas”. O segundo capítulo ele nos leva para “ Uma perspectiva bíblica e Teológica do tema”. O terceiro capítulo ele nos leva para uma reflexão do educador Paulo Freire e do Teólogo René Padilha fazendo uma junção educacional teológica “ Freire e Padilha: Uma pedagogia para contextos de opressão e a Missão Integral da Igreja”. O quarto capítulo ele trabalha “ A realidade desafiadora do mundo e a preparação missionária no Brasil”. O quinto e último capítulo o autor traz “ Uma proposta de Modelos Contextualizados”

O autor inicia dizendo que as regiões do mundo que dentro do âmbito histórico mais tem enviado missionários transculturais estão a cada dia se tornando uma sociedade pluralista, cética e intolerante a fé cristã. Os Estados Unidos e o continente Europeu as igrejas cristãs tem enfrentado uma grande resistência a missões transculturais.

Por outro lado diz o autor os países do mundo dos Dois Terços têm em muito aumentado a sua força missionária, porém os recursos financeiros tem inibido e limitado o seu impacto de missões cristãs.

Para suprir esse realismo várias estratégias tem sido elaborada e uma que tem sido percebida e ventilada ao longo prazo é o ministério dos fazedores de tendas que é justamente o envio de profissionais para aquelas regiões menos alcançadas do mundo. Ali esses missionários podem exercer a sua profissão junto ao povo local e viver uma vida de testemunho cristãos através do caráter, das atitudes banhado de um estilo de vida simples na santa expectativa de glorificar a Deus “Sola Deo Gloria” em terras longínquas.

O autor nos diz que as agencias missionárias e as escolas de missões aqui no Brasil ainda estão focalizando sua força somente na preparação de missionários tradicionais. Porém diz ele que a pouco treinamento para os profissionais brasileiros que são voluntários para o emergente ministério dos fazedores de tendas.

O autor salienta que o mundo hoje vem a cada dia apresentando vários desafios a igreja de Cristo e sua missão no mundo, logo ele entende que o ministério dos fazedores de Tenda é uma ferramenta na causa missionária e da missão da igreja.

O ministério dos fazedores de tenda tem uma história brilhante não de agora mais de tempos antigos e se mistura no palco da história das missões mundiais, pois é relatado nos anais da história que há fazedores de tendas entre os primeiros missionários.

O autor nos faz ver que entre os “ Nestorianos” do século V e IX já havia esse ímpeto missionário como também a conhecida comunidade dos “Morávios” do século de ouro da missão o século XVIII evangelizavam através da profissão. O autor salienta que a lista dos fazedores de tendas ao longo da história de missões é longa e também bela e educativa como a Missão da Basiléia do século XIX, os Navegadores etc.

A gênesis dos fazedores de tenda se deu na realidade dos povos menos alcançados produzindo assim um interesse muito grande de alcançá-lo e isso gerou e mobilizou a formação de associações dos fazedores de tendas e consequentemente de uma rede internacional que promovesse e facilitasse esse ministério brilhante.

O autor cita Christy Wilson Jr. que foi pioneiro nesta área e também teve um papel importante como representante de um grupo de trabalho formado no Congresso de Lausanne II que teve como objetivo fazer estudos e desenvolver esse ministério.

A partir daí varias organizações se formaram dando apoio a esse ministério como “ Global Careers”, “Canadian Tentmaker Network”, “ United States Association of Tentmakers” “BiG Partners Network” Tentmaker International Exchange “ TIE”, etc. Tudo isso foi regado de estudos, conferencias, conscientização, urgência, acordos etc.

Essa nova realidade diz o autor citando “Danny Martin” serviu de compreensão de que Deus estava fazendo algo novo no campo da missão abrindo assim a obra missionária para todos que fazem parte do corpo de Cristo com isso ele atesta dizendo que “ missão não é mais tarefa exclusiva do obreiro cristão de tempo integral mais é tarefa e responsabilidade de todo o cristão”.

No que tange o Brasil o autor relata que o país tem uma participação muito forte hoje em missões mundiais e um grande potencial. O Brasil pode sem dúvida contribuir muito em missões mundiais através do apoio dos cristãos profissionais a serem fazedores de tendas transculturais.

Nos últimos 15 anos vários esforços neste sentido tem sido feito aqui no Brasil através da “ Comibam”, “Proemi”, “Cem” “AFTB” (Associação de Fazedores de Tendas do Brasil) etc. com o alvo de educar acerca da importância do ministério dos Fazedores de Tendas mostrando para o profissional cristão que ele pode muito contribuir na área da missão sem deixar a sua profissão.

O autor em seu livro faz uma longa exposição para definir o que é de fato um fazedor de tendas. Entre tantas definições expostas a da “TIE”, que também é adotada pela “AFTB”, sublinha dizendo: “ Que os fazedores de tendas são testemunhas cristãs, de qualquer nação, que, por meio de suas habilidades e experiência profissionais, conseguem entrar e se manter numa outra cultura, com a intenção principal de fazer discípulos de Jesus Cristo, e, onde for possível, estabelecer e fortalecer igreja.

O autor também tenta desmistificar e trazer a luz a importância de entender neste sentido o chamado cristão para missões. Ele deixa claro que esse chamado não são para um grupo minoritário de profissionais da fé mais para todo o povo de Deus. Citando o missiólogo David Bosch ele mostra que é um erro fazer um divisionismo entre clero e laicato.

Bosch mesmo diz que esse paradigma tem dominado a Igreja Católica mais também o mundo protestante. Esse modelo deve ser substituído pelo conceito baseado na reforma que é o sacerdote de todos os santos. O ministério salienta o missiólogo Bosch não pode ser um monopólio de homens ordenados mais uma responsabilidade de todo o povo de Deus de alcançar os não alcançados com o evangelho do Rei.

Pensando assim o autor diz que o chamado de Deus tem várias facetas no que tange ao fazedor de tendas esse chamado não é largar seu emprego mais servir a Deus no seu campo de trabalho.

O mundo em que vivemos deve ser levado em consideração o mundo religioso que cresce para longe de Deus, o contexto político que é sufocante, e o contexto econômico. O ministério de fazedores de tendas oferece uma forma segundo o autor de abençoar essas regiões aonde vivem os menos favorecidos, os pobres, os marginalizados, os desempregados, os perdidos e com a sua profissão é fé levar Cristo a esses povos.

Hoje a realidade de muitas igrejas no que tange a missão e seu sustento do missionário integral no exterior é alta já o fazedor de tendas se auto sustenta no campo missionário e isso facilita a obra missionária transcultural.

O autor pensando em tudo isso diz que os conceitos do ministério leigo e da missão da igreja aqui no Brasil está sendo recuperada em virtude de uma ênfase evangélica universal na teologia do sacerdote de todos os santos.

Derek Christensen diz que “ O ministério dos fazedores de tendas não é apenas uma estratégia, também é uma teologia e essa teologia fala que o corpo todo, a igreja, existe, para a missão e o mundo dos profissionais é um local válido para se realizar a missão”.

O ministério dos fazedores de tenda recebe do autor uma fundamentação bíblico-teológica, pois ele trabalha com vários personagens bíblicos que no desempenho da sua profissão serviram ao Senhor Deus em outras nações e culturas sendo fiéis a Deus em seu testemunho e serviço.

Ele apresenta de maneira clássica a vida do profeta “Daniel” a vida do líder “José” e a vida do copeiro “Neemias” que no Antigo Testamento viveram essa realidade transcultural de fidelidade a Deus no mundo do seu trabalho e do seu ofício.

Esses exemplos citados aqui pelo autor servem de treinamento e reflexão para todos aqueles que querem desempenhar esse ministério em terras estrangeiras, pois “José do Egito Daniel e Neemias” deixam para as futuras gerações um legado de fé e testemunho de simpatia e trabalho.

Um personagem que recebe uma atenção especial é justamente o apóstolo Paulo. O próprio termo “ fazedor de tendas” tem a sua origem na sua profissão na qual ele exercia em muitas ocasiões para se auto sustentar enquanto fazia a vontade de Deus.

Em Corinto o apóstolo dos gentios junto com “Áquila e Priscila” exerceu a sua profissão de fazedor de tendas ( At.18.1-4; At.20.32), mais tarde ele se dedicou plenamente e integralmente ao ministério (At.18.5-6), Paulo usava esse recurso para não ser pesado para as igrejas já que a maioria delas era de pessoas simples, pobres e escravos com pouco recursos financeiros. (I Cor. 9.3-18).

Paulo também deixa segundo o autor um legado para os fazedores de tenda quando percebe-se que ele não usou a sua profissão para melhorar seu padrão de vida mais para proclamar o Reino de Deus pois a sua profissão nunca foi o foco principal da sua vida afirma Philip John Greenwood.

O apóstolo Paulo era sim motivado por missões e obediência ao chamado e não pelo materialismo e o egoísmo tão em voga hoje. “Áquila e Priscila” também recebem uma atenção especial no que tange a esse ministério, pois eles dedicaram também suas vidas a causa maior do Reino de Deus sendo fiéis amigos do apóstolo Paulo ( Rm. 16.3,4; II Tm.4.9-19).

O autor sublinha que a história da Bíblia é a história de um Deus missionário, que no decorrer da história dos homens se dedica á sua missão de salvação. Ele ressalta que vimos aqui neste relato que Deus não age sozinho ele age em equipe.

O autor diz então que a teologia do ministério dos fazedores de tendas é uma teologia da soberania absoluta de Deus e tem as disciplinas de “Missão” e “Diaconia” da Teologia Prática.

Essas pessoas comuns “ José, Daniel, Neemias, Paulo, Áquila, Priscila” ofereceram as suas profissões como também as suas habilidades para Deus e se tornaram parceiros da ação salvífica de Deus na história da salvação. Vimos neste relato a criatividade de Deus na grande variedade de circunstâncias e maneiras em que profissionais foram integrados no seu plano para o avanço do seu reino e revelação da sua glória salienta o autor.

Philip John Greenwood também mostra para nós um caminho de reflexão quando ele trás para a arena da conversa a figura do educador Paulo Freire na qual ele dá um zoom pedagógico no aspecto de sua teoria da educação libertadora. Freire está certo quando sintetiza dizendo: “ Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, com isso ele faz uma crítica a educação bancária e mostra que educação é um processo de libertação e de transformação como também é um processo que não se encerrou e não vai se encerrar.

O autor também mostra a grande contribuição do teólogo René Padilha no aspecto do foco missiológico para a capacitação de profissionais cristãos numa visão integral. Padilha foi uma das vozes mais marcante do Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial conhecido como “ O Pacto de Lausanne I”, realizado em 1974.

Padilha é considerado um dos “pais” da busca por uma missão da igreja que ao mesmo tempo seja bíblica e contextual diz o missiólogo catarinense Valdir Steurnagel. O conceito da missão integral considera o ser humano em todas as dimensões da sua existência. Para Padilha “ a salvação em Cristo envolve tanto o perdão de pecados (Jo. 1.9) como a vitória sobre o mundo (I Jo. 5.4) por meio da fé”.

Essa verdade diz o autor Greenwood em Padilha deve ser revista pela a igreja no sentido que a transformação não está somente pautada na salvação de almas mais ela inclui tanto a transformação do indivíduo como também a transformação do mundo pelo poder do Santo Espírito e isso tem enorme abrangência de cunho social, político, econômico, ecológico desembocando num rompimento com status quo que escraviza e sufoca o indivíduo e a sociedade.

Padilha ainda salienta em tom de alerta que a igreja chamada para realizar a missão integral deve tomar vigilância contra os perigos que tenazmente os cerca como ‘ o consumismo e o materialismo o culto a esses deuses falsos conduz segundo ele a um “estilo de vida egoísta que desvia a igreja da sua missão”.

Esses dois pontos aqui abordados “Freire” e “Padilha” destacam a valorização do ser humano a transformação por meio de um processo educativo contínuo, a valorização do outro como digno de presenciar a encarnação do Evangelho na vida de testemunhas cristãs.

O autor nos mostra também em cima dessa análise “ Freire e Padilha” no campo teórico, vários testemunhos de fazedores de tendas no campo prático da missão transcultural. Ele analisa suas crises, dificuldades, depoimento etc. que serve de alerta para os missionários de “Tendas”.


Pensando assim é feito uma análise sobre a preparação dos missionários fazedores de Tendas em nosso país e a constatação do autor é que a preparação dos fazedores de tendas transculturais no Brasil ainda é muito limitado e tímida. Por outro lado os profissionais aqui no Brasil em virtude da cultura e do seu estilo conseguem assumir em culturas diferente um estilo de vida simples e se adaptar de forma notória.

Ainda se tratando da formação dos fazedores de tendas muitos acreditam que a formação tem mais haver com caráter do que com acúmulo de informação “ Christensen”, Jonathan Lewis propõe três dimensões principais: Primeira a dimensão “cognitiva”. A segunda de “habilidades” e a terceira de “afetividade”. Ele também diz que isso acontece em três métodos principais: A capacitação “ formal, a não informal e a informa” ou seja na “sala de aula”, “na experiência prática” e “nos relacionamentos em comunidade”.

Também é citado pelo o autor no aspecto da formação que o fazedor de tendas tem que ter uma vida de oração de devocional entender a realidade da batalha espiritual, ter uma visão de missão a partir da igreja local, ter uma relação saudável com agências de missões, fazer curso bíblico de aprofundamento ter uma mentoria, viagens missionárias de férias, intercâmbio, retiros espirituais etc.

A maioria das empresas seculares valoriza os seus profissionais possibilitando cursos de reciclagem, curso de capacitação, de habilidades, de gestão etc. Da mesma forma diz o autor poderia se criar cursos assim para profissionais com conteúdo teológico. Finalizando o seu trabalho Philip John Greenwood diz que a igreja evangélica no Brasil deve obedecer o chamado de Jesus Cristo de fazer discípulos em todas as nações e deve também reavaliar seus conceitos no que tange o chamado como parceiros de Deus, pois várias realidades tem se mostrada.

O autor também diz que o mundo dos menos alcançados está esperando os profissionais cristãos fazedores de tenda, pois eles têm muito a contribuir no aspecto da missão, no aspecto econômico, social e espiritual. Deus sem dúvida está chamando uma geração de profissionais brasileiros cristãos que possam com toda alegria e fé testemunhar de Cristo para essas nações que precisam ouvir do Evangelho que transforma.

Eis aí um grande desafio para a igreja evangélica brasileira levar o evangelho integral para o mundo através dessa nova porta que Deus está abrindo nesse novo soprar do Espírito capacitando profissionais para a sublime tarefa de ser parceiros de Deus na evangelização dos povos cumprindo assim as palavras de Isaías 49.6b “ Também farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até os confins da terra”

A abordagem feita pelo autor é de sua importância para a igreja brasileira, mesmo sendo uma temática tão antiga a igreja ainda não prestou a devida atenção para esse ministério importante para a proclamação do evangelho integral em terras estranhas.

Quando prestamos a atenção ao conceito bíblico do assunto percebemos que devemos de fato criarmos mais espaços para esse desenvolvimento dentro das igrejas brasileiras que está prestado mais atenção em coisas triviais do que na missão integral.O ministério de tenda ventilado aqui com muita energia e visão bíblica deve ser levado em consideração nas igrejas, em escolas de missões, em seminários e faculdades teológicas.

A igreja de fato vem ao longo dos anos perpetuando uma visão dicotomizada do ministério que é fruto da mentalidade católica do “Clero- Laicato”, ainda na prática estamos engatinhando no conceito reformado do sacerdócio de todos os santos e da responsabilidade de todos para a tarefa missionária.

Muitas pessoas ainda pensam que vocação está somente restrito ao ministério de tempo integral enquanto elas podem ser uma benção por meio do seu profissionalismo. Acredito que Deus chama pessoas para o ministério de tempo integral mais fazer isso uma dicotomização não é bíblico e nem histórico. Creio que advogando essa temática o autor não quis de forma alguma fazer uma crítica ao missionário de tempo integral mais apresentou uma nova formatação de fazer missões através da profissão.

Essa nova coloração em missões é de sua importância aonde o evangelho enfrenta forte oposição e também aonde a situação do povo é precária. O ministério dos fazedores de tenda sem dúvida é uma janela no mundo da missão integral que deve ser apoiado pela igreja visionária.

O autor poderia em sua temática incentivar também aqueles que são profissionais mais que não tem a chamada para a missão transcultural. Acredito que o autor poderia ter ventilado o fato do ministério do fazedor de Tendas não ser somente em terras estrangeiras mais em terras, nacionais, estaduais e municipais, pois o profissional deve ter ciência que ele pode ser uma benção e um canal de Deus para abençoar pessoas através da vocação da sua profissão.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo
Seminário Teológico do Sul - S.T.S.

Um comentário:

Professora disse...

Graça e paz irmãos,

Acredito que a obra do irmão Greenwood é banstante aplicável no contexto missionário em tempos de globalização.

Considero as idéias apresentadas bastante coerentes, interessantes e inovadoras.

De fato, concordo com o Pr. Carlos. Embora o foco do autor seja transculturalidade, seria importante enfatizar que as idéias seriam muito bem aplicadas também no país da gente.

Obrigada por esse espaço precioso de informação, discussão e adoração.

Rossana Carvalho