sexta-feira, 29 de agosto de 2008

II CONFERENCIA TEOLÓGICA DO S.T.S. "MISSÃO URBANA: A HORA E A VEZ DA IGREJA NUM MUNDO PÓS-CRISTÃO E PÓS-MODERNO".

O Seminário Teológico do Sul iniciou suas atividades academicas com a II Conferencia Teológica. A Missionária Cida Lopes trabalhou com os academicos um tema de suma importancia para nós cristãos " Missão Urbana: A Hora e a Vez da Igreja num Mundo Pós- Cristão e Pós- Moderno".

Foram momentos de Reflexão, desafios e análise do momento histórico que estamos vivendo como igreja brasileira. Os alunos do S.T.S. se reunirao no Centro de Atividades da ADI para o reinicio do semestre.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O SILENCIO DOS COVARDES: ACANHAMENTO, DENÚNCIA E NÃO CONFORMAÇÃO- ABRA A TUA BOCA EM FAVOR DO MUNDO.


Abre a boca a favor do mundo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados ( Prov. 31.8-9 RA)

Pai afasta de Mim este Cálice –
Chico e Gil - homenagem a Stuart Angel Jones 1973

Abrir a boca em favor do mundo com o evangelho da paz é diferente de ficar em silêncio e celebrar uma mudez que a Bíblia condena. A igreja brasileira em muitas áreas está fazendo um barulho ensurdecedor, porém por outro lado está fazendo um silêncio assustador não proposto por Deus em sua cartilha eclesial.

Estamos em silêncio diante de tantas coisas importantes enquanto os filhos das trevas alardem pelos quatro cantos com suas filosofias, ideologias e modos operantes que se opõe a Bíblia nesta era pós-cristã, pós-moderna.

Por vez encontramos a palavra Silêncio na Bíblia, mas nunca em caráter profético-social e sim em caráter soberano diante de Deus ansiando ouvir sua voz para que sua voz seja a nossa voz diante de um mundo eclesiano, às vezes, “mudo”, “quietivo” e “triangular”.

O silêncio às vezes nos irrita, pois ele é acompanhado do descaso, da frieza, da apatia, da falta de visão e foco (Laissez-faire). Olhamos o silêncio político em várias áreas, isso já nos irrita e dizemos: Por que eles não fazem nada? Os políticos fazem muito barulho em coisas triviais e faz muito silêncio em coisas essenciais.

O jornalista e colunista da folha de São Paulo Gilberto Dimenstein fazendo uma auto avaliação da sua profissão disse: “Talvez na chamada era do conhecimento nós, jornalistas, estejamos produzindo mais barulho do que informação”. Não seria este também o nosso desabafo como evangélicos?

Talvez esse seja também o nosso problema como igrejas no Brasil, estamos fazendo muito barulho em coisas não essenciais e muito silêncio em coisas essências “In necessarii/non necessarii”

A igreja evangélica brasileira tem experimentado ao longo desses anos um crescimento em sua estrutura eclesiástica. Esse “crescer”, evangélico em solo brasileiro tem causado “Admiração” e “Preocupação”.

Admiração em ver uma colheita vertiginosa nessas últimas décadas. Alguns dizem que isso é um avivamento, outras não são tão otimistas assim, todavia a igreja evangélica em termos numéricos cresceu e sua visibilidade é percebida hoje na nossa brasilidade.

A igreja saiu do anonimato para as fileiras do sucesso, abarcando em sua estrutura não somente um aglomerado de pessoas, mas também uma potencialidade mercadológica. Todavia muitos servos do Senhor estão preocupados em ver uma igreja fragilizada, sem profundidade, populista, adequativa, pragmática e super star.

A mesma palavra que Deus proferiu no passado é a mesma palavra para nós cristãos do século XXI. “Não Temas mas fale e não te cales (...), pois tenho muito povo nesta cidade”. (Atos 18.10). Por que se vocês se calarem as pedras clamaram. Parafraseando Paulo “Como essa geração vai ouvir se não há quem fale”, pois formosos são os pés dos que anunciam a paz” ( Rm.10.14-15) ( O silêncio da Rã).

Dr. John Stott afirma que o Cristão deve ouvir o “Espírito” e também ouvir o “Mundo” e Karl Barth salienta que devemos ler a “Bíblia” e também o “Jornal”.

Dr. Billy Graham quando deu inicio a sua palestra no Pacto de Lausanne realizado em 1974 discorreu sobre a importância da igreja não se calar, não se acovardar, não ser hermética diante deste mundo em pedaços e no final de sua exposição ele bradou dizendo: “Que o mundo ouça a Sua voz”. Esse também é o nosso desejo na Escola Teológica de Obreiros depois de 34 anos do Pacto de Lausanne, que o Silêncio dos Covardes seja trocado pela voz dos servos que proclamam a Cristo de forma Integral para este mundo ( Ester 4.13-14)., pois a Bíblia diz: “Abre a tua boca em favor do mundo” e o médico e missionário inglês na África, David Livingstone disse “ Sem Cristo Nenhum passo com Cristo a qualquer lugar”.

Quando olhamos de maneira sintética para o povo de Deus, percebemos que Israel tinha uma aliança com Deus, ele era o eleito de Deus e deveria ser fiel ao seu chamado diante das nações e esse chamado é ético-teológico. Seu assentamento geográfico e todo o processo de vida pública, privada, cúltica, ética, deveriam estar acompanhado do amor por Deus e obediência ao Pacto Mosaico.( Ex.19.1-6; 20.1-21).

O Dr. Timóteo Carriker em seu livro O Caminho Missionário de Deus: focando o aspecto da vocação e do chamado de Israel diz: “A missão do povo de Deus encontra as suas raízes mais profundas na missão de Israel “ Ele” era a voz de Deus para o mundo em todos os aspectos: Político, Social, Cúltico etc.

A nação de Israel não poderia simplesmente conquistar a terra e ser derrotada no seu compromisso com Deus se misturando com as nações em sua forma cúltica deplorável, antagônica aos mandamentos divino dados no Sinai como normativo para a nação (Ex.19.1-6)
Uma vez assentados na terra prometida, Israel javanizou baal e baalizou Jave, pois em vez de celebrar a excelência do seu chamamento de ser fiel a Deus e luz para as nações eles trouxeram para sua estrutura cúltica, política, ética etc os costumes das nações pagãs.

Na verdade Israel celebrou o silêncio dos covardes diante dos povos cananeus, em vez de influenciar foi influenciado trocando o essencial pelo não essencial.

Israel se esqueceu de Deus e de sua palavra, foi advertido por Deus no movimento profético a voltar para o Senhor, todavia não atendendo o chamado profético foram julgados por Deus, pelo seu hermetismo vocacional, pelo seu silencio, pela sua traição e foram para o cativeiro em estado de humilhação. Dr. Stott observa de maneira brilhante a eqüidistância entre os mandamentos de Deus para a Nação de Israel e as Palavras de Jesus Cristo para a sua Igreja. Em Mt.6.8 diz: “ Não vos assemelheis, pois, a eles. Imediatamente nos faz lembrar a palavra de Deus a Israel, na antiguidade: Lv.18.3 “ Não fareis como eles”. É o mesmo convite para serem diferentes.

Israel foi chamado para ser uma nação que glorificasse a Deus entre os povos porém se desviou do seu compromisso em virtude da observação e assimilação cúltica dos povos da terra. Deus nós chama para glorificarmos o seu nome diante deste mundo (I Cor.10.31), através da nossa vida em todas as esferas e não somente no quadrante eclesial mas no diário.

Para Francis Schaeffer a Bíblia é o centro de tudo e a sã ortodoxia deve ser o óculos que devemos julgar esse mundo e sua cultura como também remodelar e redescobrir o nosso ministério. Schaeffer inicia sua proposição com aquilo que ele chama de “básico e urgente” que é justamente as palavras “ Reforma, Reavivamento e Revolução Construtiva”.

Esse ponto levantado aqui por Schaeffer deve estar na cartilha da excelência ministerial, pois não existe revolução construtiva sem reforma e reavivamento, ou seja, para sermos uma voz ativa neste mundo em pedaços, influenciando as mais diversas camadas da sociedade, precisamos de “Reforma e Reavivamento”. Para Schaeffer “nada pode ser duradouro se não for edificado sobre a Bíblia”. (Reforma)

Outro ponto importante levantado aqui é justamente o Reavivamento, ou seja, a vida com Deus. O antigo Israel nutria uma espiritualidade oca, vazia, sem sentido, visível, mecânica, destituída de afeto relacional etc. Tudo isso era ocasionado por um consumismo excêntrico e uma imitação gélida das nações e uma extração horripilante do baalismo medíocre injetado no coração da nação e a falta de prioridades.

No contexto da vida cristã muitos se orgulham da agenda lotada, do exibicionismo de estar sempre ocupado, correndo para um lado e para o outro, sem tempo para nada não nutrindo mais uma vida com Deus como fez Israel antes do drama do cativeiro.

As Palavra de tom íntimo mais teológico como “oração”, “devoção”, “piedade”, “meditação”, “santidade”, “integridade”, “simplicidade”, “humildade”, “dependência”,” etc que influenciaram vários servos de Deus no passado ( Baxter, Edwards,Wesley,Carey,Booth etc) já não são mais brindadas e nem bem-vindas nesta geração superficial, pois muitos trocaram o profundo examinar da Bíblia, por bagatelas modistas, trocaram a oração pela pressa, a humildade pelo orgulho, a vida cheia do Espírito, por uma vida cheia de ativismo, trocaram o caráter pelo carisma , o abrir a boca em favor do mundo pelo silêncio danoso, os interesses do reino de Deus pelos seus próprios interesses e projetos à verdadeira adoração pelo louvorzão.

Para abrirmos a nossa boca para este mundo temos que primeiro abrir nosso coração para Deus e viver plenamente a vida cristã normal, pois caso contrário caímos num ativismo sociológico sem a cruz de Cristo. O estudioso do Antigo Testamento Christopher Wright diz com firmeza que se a igreja cristã tem a intenção de ser sucessora de Israel, então precisamos de uma voz profética que desafie os pecados e as desigualdades dentro da igreja em primeiro lugar, antes de começarmos a atirar Amós contra a sociedade lá fora.

Schaeffer disse que a vida cristã normal deve nutrir três pontas importantes que são “ Reforma, Reavivamento e Revolução Construtiva. “Reforma” significa “Examinar as Escrituras” a Bíblia “ Sola Scriptura”. “Reavivamento” significa uma vida cheia do Espírito Santo “Spiritu Sancti” , e a “Revolução Construtiva” significa a missão da igreja no mundo que é a “Missio Dei”.

O Jovem cristão não pode se calar diante de um mundo em chamas. Temos que ser como disse C.S.Lewis o “Megafone de Deus” para este mundo. Não podemos nos calar diante de temas e ações que modelam nossa geração como política, ação social, ecologia, aborto, homossexualismo, celebração do hedonismo, pluralismo religioso, narcisismo como ditadura do corpo,arte, aborto, célula tronco, tribalismo urbano, violência doméstica, desemprego, preconceito, injustiça social etc. O jovem cristão não pode se calar diante de um mundo que vende ilusão. A ilusão tem adentrado no arraial dos eclesianos como aconteceu com Israel.

Na história da igreja percebemos que muitos servos de Deus foram fiéis ao chamado divino, foram fiéis em épocas de apostasia, foram constantes em período de inconstância e prostituição cultual, foram fiéis em épocas de crise e de dificuldade.

Vários homens e mulheres de Deus foram guiados pela palavra de Deus em vez de ser guiado pelo modismo cúltico das nações e da cultura excêntrica. Muitos foram mortos, exilados, enfrentaram a fúria de reis despostas, condenaram políticas desumanas, descasos sociais, injustiças e foram sem dúvida Vox Dei ( Voz de Deus) para o Laos Dei ( Povo de Deus).

Quando olhamos para o movimento profético percebemos ali o quanto eles romperam com o sistema caótica de Israel e chamaram o povo para o compromisso com Deus, denunciando a sua falsa fraternidade, o seu culto mecânico, seu mundanismo, seu abandono mosaico, sua injustiça, sua idolatria, seus valores, suas prioridades etc. Esses homens servem para nós nesta geração como protótipo de ministério que denuncia a podridão religiosa, política, social, ecológica e glorifica o nome de Deus fazendo a sua vontade sem se prostrarem ao mundanismo das nações

O livro de Hebreus no capítulo onze é um recordar de homens e mulheres que foram fiéis a Deus numa época de crise. Ali vimos uma sementeira do antigo Israel para a excelência do ministério, pois está registrado o perfil de homens que andaram com Deus. Homens que foram fiéis ao seu chamado e que pagarão um preço em virtude de sua comunhão com Deus. Eles sem dúvida não celebraram o silencio dos covardes, mas nos deixaram um legado de fé, despojamento, excelência, denúncia, constância, renúncia, fidelidade e paixão pela causa de Deus, homens “que o mundo não era digno”.


Redescobrindo a Excelência do Ministério Pastoral no Tecido Santo da Vida de Jesus Cristo: Propostas e Protestos no Lagar dos Covardes

Jesus o sumo pastor treinou os seus discípulos na fornalha do deleite, do realismo humano e da aflição ministerial. Treinou esses homens para ser fiel ao seu chamado e não deixou nenhum encantamento ministerial do tipo celebridade, sucesso momentâneo, fama, censo de superioridade, comodismo etc . Ele colocou aqueles homens frente a frente com a realidade, frente a frente com a crise humana, frente a frente com a anatomia da dor frente a frente com a anatomia do desespero.

Ele não criou e nem apresentou para aqueles jovens discípulos cheios de sonhos e delírios humanos uma ilusão de vida, um descaso social, mas mostrou que o evangelho é a maior revolução que existe e isso tem caráter “intimista” e “ativista”, não é uma “mudez” mas um “kerigma”, não é uma “institucionalização” mas um estilo de “vida prática” não é uma adequação mas uma obra secreta de Deus no homem interior.

Jesus Cristo é o arquétipo para qualquer pessoa que queira marcar sua geração de maneira séria e não lúdica pois a excelência da vida santa se inicia Nele e se finda Nele. Redescobrir a Excelência do Ministério no Tecido Santo da vida de Jesus é o grande legado poemênico para essa geração do século XXI.

No seu ministério bombástico Jesus Cristo nos deixa três exemplos clássicos: 1) Ele era o Senhor das Escrituras 2) Ele era o Senhor da Oração 3) Ele era o Senhor da Evangelização.

Dr. John Stott em seu célebre livro Mentalidade Cristã: Posicionamento do Cristão em uma Sociedade não Cristã nos ajuda neste sentido. Ele ratifica a importância da oração como responsabilidade social, devemos viver uma vida de oração e intercessão diante de Deus. Jesus nos ensinou a orar “ livra nos do mal”, mal social, mau moral, mau interior

Stott também nos diz que não existe uma transformação radical no seio da sociedade se não for através do Evangelho e isso tem implicações de evangelismo tão mal usado por esta geração. O Evangelho é o poder de Deus, pois ele transforma pessoas (Rm.1.16). O evangelho transforma o “Ego”, (eu), em “Alter”, o (outro). Stott diz que o cristão verdadeiro é uma testemunha da verdade num mundo que celebra a mentira, logo este cristão jamais pode perpetuar o silencio dos covardes mas protestar em nome de Deus, ele deve ser contra-cultural e remir esta cultura com o evangelho de Cristo ( Colson).

Dr. Júlio Zabatieiro nos diz que: “Precisamos recuperar o valor da Escritura como palavra de Deus para a humanidade, como obra literária de qualidade, como fonte inesgotável de sabedoria – recuperar o caráter inovador e desafiador da Bíblia, que sempre fala a nós, mas também contra nós. Para fazer isto, precisamos orar, buscar a Deus, e voltar para Bíblia”.

Quando o nosso silêncio , indiferença e comodismo é mas importante que a “missão” a “comunhão” e a “intimidade com o Todo Poderoso” estamos andando no lagar do Silêncio dos Covardes que tem cara de crente cheiro de crente mas não é discípulo e sim agente secreto. Jesus Cristo em todo o seu ministério foi o Megafone de Deus para a sua geração. Ele levantou o caído mas condenou as formas que inferiorizavam o ser humano, abraçou o derrotado mas julgou a religião siliconizada

Jesus Cristo o Sumo Pastor é um modelo para nós jovens de sofrimento e de suportar sofrimento é um modelo de humildade , de dependência total, de clareza no ensinar, de afeto e de carinho de sensibilidade diante de Deus e diante dos homens.
Ele é um exemplo de deixar se aproximar e de se aproximar e suas Palavras estava pautada na verdade e na práxis diária. Ele é um exemplo de denúncia e de levantar o tapete da falsa vida religiosa.

Ele de fato é um modelo de lidar com os inimigos e opositores ao seu ministério como também é um modelo de oração e de intimidade com o Todo Poderoso. Ele é um protótipo de quebrar o Status quo de romper com o sistema humano. Ele subjugando as forças maléficas e não se prostrou ao Zeitgeist “ espírito da época”..

Jesus Cristo o sumo pastor é um modelo de doçura cativante,de convicção da sua missão, de amor transbordante , de lidar com a demonização sem teatrismo., de investir aonde ninguém quer investir, de fidelidade à missão e ao seu Deus, de vida simples e do despojamento cristológico

Ele é um modelo terapêutico- mutli-facetário. É um modelo de viver a vida debaixo da direção do Espírito Santo. É um modelo de urgência de celebração da vida e de equilíbrio. É um modelo de renúncia e de negação. É um modelo de obediência a vontade de Deus e sua Palavra.

Quando olhamos para o ministério de Jesus Cristo como modelo de alguém que não celebrou o silencio temos que Ter ciência que ele ultrapassou barreiras e fronteiras e se dedicou ao máximo para comunicar a Palavra do Senhor. Ele não buscou aplausos dos homens, aprovação humana e não andou nos bastidores da vá religião e nem do elitismo ministerial.

Em se tratando de modelo ministerial de Jesus Catalão Angel Castañeira diz que: “Temos que revisar, então o modelo de Jesus cujo ministério público foi essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o que era sentir o calor do meio-dia no deserto de Samaria, ou o frio da morte no quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores de pais e filhos. Hoje, mais do que nunca, devemos seguir este modelo, se queremos alcançar a geração pós-moderna” Essa declaração nos mostra como Cristo foi mestre em comunicar o Reino de Deus para a sua geração , para o seu o povo, para a sua época.

Francis Schaeffer em seu livro A Morte da Razão diz que “Cada geração defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de maneira comunicativa. É problema que não pode resolver sem uma compreensão da situação existencial, em constante mudança, com que se defronta. Para que consigamos comunicar a fé cristã de modo eficiente, portanto, temos que conhecer e entender as formas de pensamento da nossa geração” .

Ele rompeu barreiras e fronteiras. Será que estamos dispostos? A sair do nosso ninho, do nosso gueto e romper barreiras e fronteiras? Ele tanto sabia conversar com a pessoa mais culta como sabia conversar com uma mulher desprezada a beira de um poço. Ele tanto sabia participar dos grandes banquetes, como sabia ficar três dias no povoado de Samaria comendo pão simples.

Ele tanto sabia pregar para uma multidão, como sabia atravessar o mar da Galiléia e se encontrar no sepulcro com um endemoninhado gadareno. Ele tanto sabia falar para um publicano Zaqueu descer da árvore, como sabia dizer para um príncipe do povo chamado Nicodemos que é necessário nascer de novo.

Cristo rompeu barreiras e se encontrou com o descamisado da sua época, com a prostituta, com o fariseu, com os necessitados e com os aflitos. Ele amava essas pessoas e por causa do seu intenso amor para com o Pai e para com os homens ele morreu na cruz.

Se queremos alcançar essa geração, pós-cristã, pós-moderna brasileira no ponto de vista cristológico devemos seguir os passos de Jesus e não do modismo contemporâneo. A igreja de Cristo e o jovem cristão deve romper as barreiras e as fronteiras e se apresentar para essa geração como Sal e Luz, como guardadora da Verdade e praticadora da Verdade. Ela deve ir aonde Cristo foi, deve romper as barreiras e anunciar Deus para esse mundo sofrido.

Cristo em seu ministério tinha um alvo claro o seu escopo era a glória de Deus Soli Deo Gloria. Jesus resumiu o seu ministério em cinco palavras “ Eu te Glorifiquei na Terra”. (Jo. 17.5. e o breve catecismo de Westminster burilado 1647 diz: Qual é o fim principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegra-lo para sempre

Porém o que muitas vezes pulsa hoje no círculo pastoral é a exaltação do homem em detrimento à exaltação de Deus, é o homocentrismo poemênico em detrimento ao centrismo em Deus e o conceito bíblico do ministério.

Jesus Cristo, o filho de Deus deve sempre ser o nosso exemplo maior, pois os tempos mudaram, mas o caráter revelador do sumo pastor que é Cristo não muda. De fato Jesus Cristo como diz as Sagradas Escrituras é o “ Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (Jo.10.11,14) e esse Bom Pastor deu seu próprio sangue em favor de nós (At. 20.28) . Ele também é o Sumo Pastor das nossas vidas (I Pe 5.4;Hb.13.20) e requer de nós jovens cristãos obediência a sua Palavra (Mt.7.24-27).

Jesus Cristo nos convoca para transformarmos a nossa geração com sua Palavra, na força do Santo Espírito, debaixo da graça de Deus. Ele é o modelo seguro para nós romper com o silencio dos covardes e abrir a nossa boca em favor deste mundo, pois Ele como ovelha muda não abriu a sua boca no que tange a vontade do Pai, mas em todo o seu ministério o que ele menos fez foi celebrar o silêncio dos covardes. Jesus Cristo nos convoca dizendo: “Assim como o Pai me enviou Eu envio vocês” e esse enviar é marcado pela compaixão. Henri Nouwen está certo quando diz que devemos olhar para dentro dos olhos dos fugitivos

Dr. Russel Shedd disse que Deus quer usar pessoas que são “Perseverante”, que vivem uma vida santa e cheia do Espírito. Que são sábios”, que tenham Fé e Amor, que sejam servos, aprendiz, humildes, marcado pela visão de Deus, gratos etc.
( 3 barras)

De fato a geração pós-moderna é um campo missionário e requer de nós compreensão deste período para podermos ministrar a palavra de Deus num período de afronta. A geração pós-moderna está em busca desenfreada pelo hedonismo. A geração pós-moderna é narcisista ao extremo. A geração pós-moderna é tecnológica. A geração pós-moderna vive num contexto pluralista.

A geração pós-moderna não crê na verdade absoluta, mas relativa. A geração pós-moderna vive uma vida privada e não pública. A geração pós-moderna vive na esfera do individualismo e não da comunidade. A geração pós-moderna adora o belo, o Shopping-center como esfera de vida. A geração pós-moderna é extremamente liberal, amoral, apolítica, sem utopia.

A geração pós-moderna não tem tempo para o sagrado só tem tempo para o entretenimento e para o descontínuo. A geração pós-moderna vive no mundo da superficialidade e não da profundidade. A geração pós-moderna tem adotado um deus cósmico, místico esotérico, essa geração e espiritualista e tem enlatado e importado várias religiões que dão sensação sem se intrometer na sua vida.
A geração pós-moderna é consumista ao extremo e esta sempre insatisfeita. A geração pós-moderna é agressiva, rebelde, que tem a cada dia banalizado a vida (geração Spoker). Ela tem prazer no efêmero e viver é experimentar fortes sensações (esporte radical). Sem sentimento de culpa

Porém a geração pós-moderna é uma geração: Triste, Complicada, Cheia de Solidão e desesperança, Cheia de Medo, busca resposta para as maiores questões da vida, tem um buraco no coração. Vive numa aldeia global de 6 bilhões de pessoas, mas é solitária, eles são depressivos e são um misto de fortaleza com fragilidade cabe a nós igreja de Cristo comunicar Deus de forma sábia para essa geração sem ser engolido pela cultura genérica
Para que nossa geração venha de fato dar crédito para a nossa mensagem cristã temos que ter:
1) Uma convicção do nosso chamado e de onde eu vim o que eu estou fazendo aqui e para onde eu vou
2) Temos que Ter a convicção que a Bíblia é a verdade de Deus revelada para o homem (Ela é a palavra de Deus).
3)Temos que Ter uma vida carregada de fé, de certeza, de integridade e de esperança
4) Temos que está pronto para servir o próximo e viver o evangelho integral
5) Temos que viver uma vida de testemunha vibrante, cativante
6) Temos que Ter uma vida de pureza, santidade, dependência..
7) Temos que Ter uma vida de amor obstinado por Cristo
8) Temos que firmar os valores do reino de Deus
9) Temos que mostrar para o cidadão urbano que temos que lutar pela vida mas sempre olhando para a eternidade para o Eterno pois tudo é vaidade é correr atrás do vento, mas a palavra do Senhor permanece para sempre.
10) Temos que viver uma vida de amizade verdadeira, de comunhão:
11) Temos que viver uma vida de renúncia, de rompimento com o status quo
12) Temos que Ter uma vida de Missão ‘ Missio Dei” e não da hermenêutica dos sentidos
13) Temos que Ter uma vida marcada pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus

A Igreja é o principal instrumento que Deus tem neste mundo para unir as coisas. A resposta para a indagação e a inquietude dessa geração Pós-Moderna não está no místico, no pragmatismo, etc., mas sim em Cristo. Como disse John MacArthur: “Encontramos na pessoa de Jesus Cristo provisões suficientes para as nossas necessidades”

Quando olhamos para o Sermão do Monte, percebemos que podemos tirar dali algumas respostas para essa inquietude:

A Primeira coisa que a Igreja tem que ter é “Convicção de sua Identidade” e “Propósito” (Mt.5:13-14), porque essa identidade gera responsabilidade e estabelece a contracultura (Mt.6:8). As pessoas buscam fama (Mt.5:16), glória (Mt.6:2), poder, dinheiro e status (Mt.6:19-24), etc. Porém, uma Igreja que tem convicção de sua chamada não vai buscar isso, mas o contrário, irá buscar a glória de Deus (Mt.5:16), e o Reino de Deus (Mt.6:33).

Em segundo lugar o mundo Pós-Moderno só vai ouvir pessoas que têm “Convicção daquilo que está proclamando” (Mt.6:9-10) e isso tem dimensões profundas, porque sai da esfera teórica (Mt.7:26-27) e desemboca na prática (Mt.7:24-25) e na transparência (Mt.5:9; 5:21-24; 5:37), na celebração da verdade (Mt.5:3-12), na prioridade e no despojamento de tudo o que não é de Deus (Mt.6:10; 6:31-33). Daniel Salinas nos mostra quatro pedras fundamentais para alcançar essa geração: A autenticidade, o cuidado mútuo, a confiança e a transparência (1999, p.45-46). Todas essas pedras fundamentais estão inseridas no Sermão do Monte. Segundo Salinas, para evitarmos a infiltração Pós-Moderna na Igreja temos que romper com a Hermenêutica dos Sentidos, da Antropocentricidade e da Escatolicidade da Ficção (1999, p.49-54).

Em terceiro lugar a Igreja não pode relativizar a “Palavra de Deus” por causa do sucesso do pragmatismo excêntrico e nem pelas afrontas desse mundo. Para Stott no seu livro Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, nós não podemos ser como varas sopradas ao vento, não podemos de maneira alguma nos curvar diante dessa sociedade com sua avareza, seu relativismo, sua rejeição ao absoluto. Pelo contrário, temos que ficar fiel à Palavra de Deus (1997, p.184). A Palavra de Deus é absoluta verdade: "Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade" (Jo.17:17, NVI), e essa verdade de Cristo no Sermão do Monte tem que ser guardada e praticada (Mt.7:24-27). Ela não pode de maneira alguma ser sacrificada pela Igreja no altar da Pós-Modernidade.

Em quarto lugar o mundo Pós-Moderno cuja consciência ética é relativizada e liberalizante, tem que ver que na Igreja de Cristo existe uma “ética”, um padrão moral antagônico e contracultural: "Não sejam iguais a ele ..."(Mt.6:8, NVI). O mundo precisa visualizar que a Igreja de Cristo tem sua plena fundamentação não nas riquezas desse mundo (Mt. 6:19), mas em Deus (Mt.6:20). O mundo tem que notar que a Igreja de Cristo não é opulenta, mas ela encarna um estilo de vida simples (Mt.6:25-26), O Supremo Bem, que a Igreja percorre em alcançar como valor, não é temporal, mas eterno (Mt.6:33). Essa geração tem que saber que a Igreja de Cristo chamada para ser Sal e Luz deste mundo, não precisa de amuleto ou fetichismo (Mt.6:5-7), mas ela desenvolve uma piedade cristã relacional e não utilitária com Deus Pai, revelado por Cristo no Sermão do Monte (Mt.6:9-18).

Em quinto e último lugar a Igreja de Cristo que vive o Sermão do Monte deve ser conhecida como a Comunidade do perdão, da oração, do amor, do afeto, da verdade, da alegria, da contraculturação, da unidade, etc., só assim o mundo irá nos ouvir. Stott nos lembra que o mundo secularizado está em busca da transcendência, de significados e de comunhão.

Jesus Cristo nos convoca para transformarmos a nossa geração com sua Palavra, na força do Santo Espírito, debaixo da graça de Deus. Ele é o modelo seguro para nós rompermos com o silencio dos covardes e abrirmos a nossa boca em favor deste mundo, pois Ele como ovelha muda não abriu a sua boca no que tange a vontade do Pai, mas em todo o seu ministério o que ele menos fez foi celebrar o silêncio dos covardes. Jesus Cristo nos convoca dizendo: “Assim como o Pai me enviou Eu envio vocês” e esse enviar é marcado pela compaixão (Mt.9.35-38). Henri Nouwen está certo quando diz que devemos olhar para dentro dos olhos dos fugitivos e como o pai do filho pródigo abraçar e amar essa geração.

Dr. Russel Shedd disse que Deus quer usar pessoas que são “Perseverantes”, que vivem uma vida santa e cheia do Espírito, que são sábios, que tenham Fé e Amor, que sejam servos, aprendiz, humildes, marcado pela visão de Deus e gratos. Que de fato este mundo possa ouvir a sua voz através das nossas vidas como pontuou o pacto de Lausanne 1974.

Soli Deo Gloria

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

A MISSIOLOGIA APOCALÍPTICA DA CARTA AOS ROMANOS: COM ÊNFASE EM 15.14-21 E 9-11


DR. TIMÓTEO CARRIKER PhD

Paulo escreveu a sua carta à igreja romana durante a sexta década do século I, no final de uma estadia prolongada em Corinto, uns mil quilômetros a leste de Roma. Na mais longa(1) das cartas paulinas existentes, tomamos conhecimento do evangelho segundo o apóstolo e ficamos sabendo um pouco sobre sua situação missionária específica. Essa situação é a preocupação deste estudo e para ela volvemos nossa atenção.

I. OCASIÃO

O contexto da Carta aos Romanos vai além da composição da igreja de Roma e dos seus conflitos internos. Também se relaciona com a viagem antecipada de Paulo para Jerusalém (15.26), e assim a carta resume as convicções teológicas que o apóstolo adquiriu durante o período que começou em 1 Coríntios e Filipenses 3 acerca da sua evangelização de judeus e gentios e da misericórdia e plano histórico-salvífico de Deus para ambos.(2) Tal resumo, a fim de ser convincente para uma audiência com a qual Paulo não teve contato prévio, e também devido ao seu conteúdo específico, exigiu uma interpretação cuidadosamente elaborada das Escrituras. Conseqüentemente, a natureza ocasional de Romanos a diferencia das outras cartas paulinas por causa dos seus múltiplos referenciais. Sugiro cinco deles, sendo que quatro são geográficos e um hermenêutico.

A. Quatro Referenciais Geográficos

Todos os referenciais geográficos são mencionadas pelo próprio apóstolo na sua carta. O primeiro se refere à sua preocupação legítima pelos cristãos de Roma (1.13-15; e capítulos 12-14,16). O segundo refere-se à sua viagem antecipada para Jerusalém (15.25-27), o terceiro às suas reflexões a respeito do seu ministério anterior desde Jerusalém até o Ilírico (15.15-21) e o quarto aos seus planos para ministério posterior na Espanha (15.22-24, 28-29).

1. Roma

O fato de que Paulo dirige a carta aos cristãos de Roma (1.7-15) não é questão de debate. Sua preocupação com algumas questões específicas entre eles também se auto-evidencia (capítulos 12–15). Mas o peso e a relação dessa preocupação contextual com a carta inteira é assunto bastante debatido. Qualquer que fosse a situação histórica das congregações romanas, o seu tratamento logo é ofuscado pela "conversa" de Paulo com as Escrituras. Mesmo assim, as questões congregacionais abordadas nessa carta não estão dissociadas da preocupação mais ampla do apóstolo, como pretendemos ilustrar.
Em anos recentes, os estudiosos de Romanos têm focalizado a sua atenção nas tensões existentes entre os judeus e os gentios nas congregações romanas. Essas tensões surgiram logo após o retorno dos judeus para Roma, depois do exílio decretado pelo imperador Cláudio.

Embora a história exata do judaísmo romano ainda não esteja clara, três das suas características importantes para nossa discussão podem ser destacadas. Primeiro, uma grande proporção desses judeus era composta de cidadãos romanos, que ao mesmo tempo estavam "mais próximos da terra materna ortodoxa" que os judeus alexandrinos" (3) Segundo, esses judeus realizaram uma obra missionária bem-sucedida entre os cidadãos gentílicos.(4) Essas duas características exigiram uma terceira: um alto nível de organização.(5) Como os primeiros cristãos de Roma eram também judeus e assim cultuavam em sinagogas romanas, é provável que eles tenham possuído essas mesmas características gerais.(6 )


Há uma lacuna no nosso conhecimento da comunidade cristã romana, no período entre a expulsão dos judeus em 49 AD(7) e a carta que Paulo escreveu à comunidade em 57 AD.(8) Algumas mudanças, entretanto, são evidentes. Paulo escreve para uma comunidade cristã predominantemente gentílica (1.5s, 13s; 11.13s).(9) É uma comunidade grande e ativa, com boa reputação no mundo cristão mediterrâneo (1.8; 15.14). Muitos membros provavelmente eram atraídos de dentro das sinagogas, fruto da obra missionária judia.

As hipóteses reconstruídas da nova situação podem ser sintetizadas assim: depois da expulsão dos cristãos judaicos, os cristão gentílicos não podiam mais reunir-se nas sinagogas, mas somente em casas particulares. A observância restrita da Lei judaica rapidamente foi dispensada por esses cristãos gentílicos. O retorno subseqüente dos cristãos judaicos em 54 AD, com a sua observância segundo a Torá de rituais etnicamente orientados, criou tensão com os cristãos gentílicos agora mais independentes.(10)

É em vista dessa situação que se entende a discussão de Romanos 14–15 acerca dos cristãos "fracos" (predominantemente judeus) e os cristãos "fortes" (predominantemente gentios).(11) Esses grupos distintos devem aprender a conviver (15.7s).(12) Os cristãos judaicos não devem insistir em reivindicações baseadas na etnia (cap. 9), mas na finalidade de Cristo em todas as coisas, inclusive na Lei (cap.10). E os cristãos gentílicos devem humildemente reconhecer a sua dívida para com Israel e crescer no seu apreço (cap.11).(13)

Diante dessa situação reconstruída, o que pode ser afirmado do conteúdo da carta é a intenção do apóstolo de visitar logo os cristãos romanos. Em ocasiões anteriores, isto não havia sido possível (quando Cláudio promulgou seu edito de expulsão), mas agora — quando Nero estava no trono imperial numa anunciada era dourada —, no início de 57 AD, a oportunidade havia chegado. A relação entre essa pretendida visita a Roma e o conteúdo da carta ainda permanece uma questão debatida. Nós esboçamos a sugestão acima. Mais duas sugestões aparecem a seguir: a viagem que Paulo esperava fazer para Jerusalém, e sua viagem também esperada para a Espanha.(14)


2. Jerusalém

Antes da sua visita a Roma, Paulo precisa ir primeiro a Jerusalém para entregar uma oferta proveniente da Macedônia e da Acaia como um fundo de assistência para a igreja-mãe (15.25s). Essa oferta foi objeto da sua preocupação durante um bom tempo (1 Co16.1-4; 2 Co 8.1-9.15). E essa é a razão porque Paulo não poderia visitar imediatamente os cristãos de Roma.

Por um lado, Paulo não convida explicitamente os cristãos romanos a contribuírem para a oferta que fora levantada pelas igrejas que ele mesmo havia plantado. Mas também não menciona a oferta inocentemente, de passagem, como a razão da sua demora. Ao invés disso, ele expõe a base teológica da oferta, que explica como "um prazer e um dever dos cristãos gentílicos" pela sua participação das bênçãos dos cristãos judaicos (15.27).

O forte eco da dívida espiritual dos gentios em relação a Israel, exposta no capítulo 11, ressoa com força na explicação que Paulo faz da oferta. No capítulo 11, Paulo está claramente dirigindo-se aos cristãos gentílicos (11.13). Portanto, o seu claro eco no capítulo 15 é uma indicação de que Paulo pretende, de alguma maneira, incluir os cristãos gentílicos romanos no seu plano de entregar a oferta à igreja de Jerusalém.

A fim de avaliar as palavras de Paulo nesse contexto, é preciso discutir sua perspectiva da importância de Jerusalém e da igreja de Jerusalém. A discussão é complexa e envolve o entendimento específico que Paulo tem do evangelho, especialmente no que se refere ao lugar da lei, que causou conflitos com os líderes da igreja de Jerusalém e, em alguns casos, levou algumas pessoas a questionarem sua legitimidade apostólica. Resumimos brevemente essa questão aqui.

a. Paulo e a Igreja de Jerusalém

A relação de Paulo com a igreja de Jerusalém era caracterizada tanto por independência quanto por dependência. Das suas cartas aos Gálatas e aos Coríntios, depreende-se que ele queria manter a independência das suas igrejas. Ao mesmo tempo e nessas mesmas cartas, Paulo reconhece que essas igrejas eram dependentes da igreja de Jerusalém, inclusive por terem recebido dela o próprio evangelho (Gl 2.2-10; 1 Co15.3-11). O próprio Paulo fez questão de manter contato com a igreja de Jerusalém (15)

Esta ambivalência em relação à igreja de Jerusalém e aos seus líderes foi conseqüência do encontro apocalíptico de Paulo com Jesus e da transformação de orientação escatológica que se seguiu. Por um lado, Paulo, pelas suas próprias palavras, via Jerusalém como o lugar que marcou o clímax da salvação de Deus (Ro11.26s, citando Is 59.20s; ver Sl 14.7; 53.6). Através do seu encontro apocalíptico com o Cristo ressucitado e do seu reconhecimento de Jesus como o Messias, Paulo passou a ver a igreja de Jerusalém como uma prova principal de que tal salvação, de fato, começara.(16) A primazia de Jerusalém no cristianismo antigo para a expansão do evangelho é confirmada por Lucas ( 24.47; Atos 1.8).(17) F. F. Bruce, citando Henry Chadwick, repara que pelo menos até 60 AD "a cristandade tem um centro geográfico e esse é Jerusalém. Os cristãos gentílicos podiam estar livres do judaísmo; mas ainda eram devedores a Sião."(18)

b. Paulo e a Lei

Por outro lado, o encontro apocalíptico de Paulo com Jesus, também pelas suas próprias palavras, estava inseparavelmente ligado ao seu chamado como apóstolo entre os gentios. As implicações desse chamado para a lei(19) e a relação do evangelho com a lei, cuja tensão já havia se evidenciado no ministério de Jesus (Mc 7.1-23; Mt 15.1-20), foram cada vez mais refinadas durante seus primeiros anos missionários na igreja de Antioquia. Antes zeloso pela lei, Paulo sofreu uma reversão teológica radical a partir do seu encontro com o Cristo crucificado que Deus obviamente vindicara (havia ressuscitado).

"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido" (Gl 3.13-14, citando Dt 21.23).

Paulo concluíra, então, que os gentios não eram incluídos na aliança pela lei e que a própria lei havia sofrido transformações a partir da vindicação de Jesus por Deus que ocorrera apesar da lei. Foi essa perspectiva de Paulo sobre a não observância gentílica da lei(20) a principal fonte da sua tensão com alguns dos líderes da igreja de Jerusalém. E era essa tensão, junto com o reconhecimento por Paulo da importância de Jerusalém, que constituía a ambivalência da sua atitude em relação à igreja de Jerusalém.(21) Tipicamente como os apocalipticistas, Paulo estava redefinindo o povo de Deus e conseqüentemente modificando a doutrina judaica da eleição pela inclusão dos gentios como gentios.(22)

Com esse pano de fundo, voltamos a nossa atenção para os planos de Paulo em Rm 15.22-29 de entregar a oferta à igreja de Jerusalém. Antecipando a sua viagem para Jerusalém, Paulo procurava o apoio das igrejas romanas para legitimar em Jerusalém a sua missão livre-da-lei aos gentios como fundamental para o evangelho. Foi esse o ponto de vista que adquiriu durante o período que começou em 1 Coríntios e Filipenses 3 e alcançou seu clímax na carta aos Gálatas, que havia escrito logo antes. Assim ele buscava o apoio prestigioso dos cristãos romanos para a defesa posterior do seu evangelho na igreja de Jerusalém e esperava evitar em Roma o que acontecera em Antioquia.

3. "Desde Jerusalém ... até ao Ilírico"

A alusão em Romanos 15.22-29 de que o ministério mais amplo de Paulo está em vista, encontra apoio na sua referência ao resumo desse ministério em Romanos 15.14-21: "desde Jerusalém e circulando até o Ilírico" ( avpo VIerousalhm kai kuklw mecri tou VIllurikou). A passagem receberá análise maior abaixo. Basta reparar, por enquanto, a ênfase que Paulo dá aqui à orientação divina em todo o seu ministério.
"Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus. Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo..."(15.17-19).

Claramente Paulo está preocupado com a legitimação do seu ministério anterior. Essa legitimação também se evidencia quando Paulo estabelece como princípio apostólico chave nunca invadir o ministério dos outros (15.20-21). Ao contrário de todas as outras cartas, a natureza ocasional de Romanos inclui, numa visão mais ampla, todo o ministério de Paulo. De fato, como exporei mais adiante, Paulo está aqui refletindo consciente e deliberadamente sobre o seu papel como missionário aos gentios enquanto pondera as implicações desse fato para o futuro e a salvação de Israel.

4. Espanha

Tão explicitamente quanto Paulo identifica Jerusalém como o seu destino anterior à visita a Roma, ele identifica a Espanha como o seu destino posterior (15.24,28). Entretanto, pouco se diz a respeito da relação entre a sua viagem pretendida à Espanha e o conteúdo geral da carta. O que pode ser estabelecido com relativa facilidade é a intenção especialmente missionária de Paulo.

"Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia" (15.23-24, 28b). (Minha ênfase)

A expressão umaj kai ufV umwn propemfqhnai ("ser encaminhado por vocês," v. 24) era praticamente um termo técnico nos círculos cristãos missionários, que se referia ao apoio moral e provavelmente também financeiro necessário para a proclamação do evangelho.23 Paulo, então, está pedindo o apoio dos cristãos romanos para a viagem missionária que pretendia fazer até à Espanha. Assim como Jerusalém, também a Espanha não era nenhuma preocupação periférica quando escreveu a sua carta aos romanos.

Mas qual é a natureza do apoio dos cristãos romanos que o apóstolo procura e qual é a relação desse apoio com o restante da carta? Robert Jewett recentemente sugeriu que Paulo estava solicitando apoio financeiro e possivelmente treinamento lingüístico para sua missão espanhola.(24) Ele reconhece especialmente Febe, não apenas como portadora da carta romana, mas também como uma patrocinadora de seu ministério, que o representaria em Roma a fim de arrecadar sustento para sua missão na Espanha. É uma hipótese interessante. Em primeiro lugar, sustém a importância do papel de Febe como a portadora da carta, bem como o seu status eclesiástico,(25) social(26) e econômico(27) de prestígio diante dos cristãos romanos. Assim, Paulo demonstra alta estima por Febe bem como por outras mulheres, especialmente pelo seu denodado esforço (por ex., Maria, Trifena e Trifosa, e Pérside — todas caracterizadas por sua operosidade(28)) e a sua função apostólico-missionária (por ex., Priscila e Júnia(29)). Segundo, é uma explicação melhor do motivo por que Paulo iria visitar em primeiro lugar um centro cristão que ele mesmo não havia fundado, antes de proceder para a Espanha, quando na mesma carta ele afirma que não era a sua política construir em cima do fundamento dos outros (15.20).

Que lugar melhor que Roma para uma missão a uma colônia latina?(30) Terceiro, fornece um tópico apropriado do assunto (16.2) que Febe iria tratar com os romanos na sua visita, a saber, o pedido de sustento financeiro a eles, tomando como exemplo o que ela mesma estava fazendo. E finalmente, porém mais cautelosamente, a sugestão nos proporciona um motivo para a longa lista de nomes em Romanos 16.3-15, como um rol sugestivo e potencial dos sustentadores da campanha espanhola de Paulo.(31) A hipótese de Jewett constitui um avanço significativo na nossa compreensão de mais uma possível ocasião desta carta e deveria ser explorada rigorosamente.

Entretanto, é importante ressaltar a observação feita anteriormente de que a carta, de fato, não elabora essas ocasiões. Trata-se das nossas melhores reconstruções históricas e não de fatos históricos explícitos. É seguro concluir que Paulo encoraja algum tipo de cooperação por parte dos cristãos romanos para a sua missão à Espanha. Jewett nos oferece uma boa hipótese a ser melhor investigada.

A cooperação incentivada pode ter incluído participação financeira e lingüística; e Febe parece ter tido um papel importante. Mesmo assim, a carta ainda se caracteriza por uma extensa elaboração teológica e é a teologia que melhor indica o contexto ou os contextos da carta, inclusive o apelo feito pelo apóstolo para que os cristãos romanos apóiem a sua missão espanhola. De fato, não é uma teologia abstrata e desconectada da situação missionária de Paulo. É uma teologia de missão. Krister Stendahl é um dos poucos biblistas que percebeu isso, quando iniciou um dos seus últimos livros com a seguinte afirmação:

"Romanos é a última declaração de Paulo acerca da sua teologia de missão. Não é um tratado teológico sobre a justificação pela fé... Quando falo de Romanos como a declaração, feita por Paulo, da sua teologia de missão, estou convencido de que a teologia paulina tem o seu centro norteador na percepção apostólica de Paulo sobre a sua missão aos gentios. Conseqüentemente, Romanos é central à nossa compreensão de Paulo, não por causa da sua doutrina da justificação, mas porque a doutrina da justificação está aqui no seu contexto original e autêntico: como um argumento a favor da posição dos gentios baseada no modelo de Abraão" (Romanos 4).(32)

Depois de cogitar os possíveis contextos geográficos dessa carta, a enorme ênfase dada por Paulo à defesa teológica do seu evangelho certamente indica um apelo por apoio teológico. Isto é, a não ser que a própria interpretação de Paulo sobre as implicações do evangelho para as práticas ritualísticas dos cristãos judaicos e gentílicos seja convincente para os cristãos romanos, um assunto imediatamente relevante para eles, não conseguirá o seu apoio prático para a sua missão espanhola. E é nisso que compreendemos a relação da sua tencionada viagem à Espanha com a sua tencionada viagem à Jerusalém, e também com a sua visita a Roma inserida no meio.

Em Romanos, Paulo de uma só vez procura esclarecer a sua interpretação do evangelho, revelada e ao mesmo tempo trabalhada missionariamente "na caminhada," durante o seu ministério anterior entre Jerusalém e o Ilírico, a fim de: 1) conseguir o apoio teológico dos cristãos romanos para o seu evangelho enquanto antecipa a sua visita à igreja de Jerusalém; 2) recrutar apoio prático (possivelmente lingüístico e financeiro) dos cristãos romanos para sua viagem missionária à Espanha; e 3) incentivar a unidade entre cristãos judaicos e cristãos gentílicos em Roma, e entre Paulo e a igreja de Jerusalém. Não era tarefa pequena! E com certeza exigia a exposição ampla e ao mesmo tempo sutil dos livros sagrados da Escritura.

B. Uma Referência Hermenêutica

O referencial hermenêutico diz respeito à justificação feita pelo apóstolo do seu(33) evangelho à luz de uma interpretação intensificada das Escrituras e tem implicações para cada um dos referenciais geográficos. O tema hermenêutico central da carta é "o evangelho, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do gentio"(34) (1.16), enquanto que a chave hermenêutica central para abrir esse tema é "Cristo, o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê" (10.4).

Paulo inicia a sua carta com a intenção expressa de expor o "evangelho de Deus," euvaggelion qeou (1.1), "prometido nas Escrituras Sagradas" de Israel, evn grafaij agiaij (1.2). Não é de surpreender, portanto, que nessa carta encontremos uma proporção incomumente densa de referências às Escrituras. Hays cita a tabulação de Dietrich-Alex Koch que registra 51 citações em Romanos entre as 89 de todas as cartas de Paulo.(35) De acordo com Hays, essas citações estão girando ao redor de um foco comum: o problema da justiça salvadora de Deus em relação a Israel... A voz insistente e repetida das Escrituras, dentro e por trás da carta de Paulo, põe em relevo de maneira inexorável um tema singular: o evangelho é o cumprimento e não a negação da palavra de Deus a Israel.(36)

II. EXEGESE

Paulo começa sua carta com o tema apocalíptico(37) da "justiça de Deus" (dikaiosunh qeou), que guia em grande parte os seus pensamentos:
"Pois, não tenho vergonha do evangelho: é o poder de Deus para a salvação de todos que crêem, primeiro o judeu, mas também o gentio. Porque nele a justiça de Deus é revelada (evn auvtw| avpokaluptetai) de fé em fé; como está escrito: "O justo viverá pela fé" (1.16-17). (Minha ênfase)

A leitura intertextual que Hays faz desses versículos estabelece claramente a estrutura temática da carta como um todo.(38) Seus comentários com certeza são reveladores. Por exemplo, o versículo 16 ecoa a linguagem do Salmo 97.2 LXX (98.2, Texto Massorético): "O Senhor fez manifesta a sua salvação; ele tem revelado a sua justiça na presença das nações."

Na sua carta, Paulo expande e interpreta o tema para referir-se à aplicação da justiça de Deus aos gentios através da morte e ressurreição de Cristo, a fim de confirmar as promessas de Deus a Israel (15.8-9a), da mesma forma que o versículo imediatamente após aquele que Paulo evoca em Romanos 1.16 afirma: "Ele lembrou-se da sua misericórdia para com Jacó e da sua veracidade (ver Romanos 3.7; 15.8) para com a casa de Israel. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus" (Sl 98.3). A salvação universal e futura de Deus que o salmista anuncia, é colocada por Paulo no tempo presente. Ecos semelhantes com o mesmo efeito ouvem-se em Isaías 51.4-5 e 52.10.

Em todos esses textos, Israel no exílio é consolado pela promessa da poderosa ação libertadora de Deus. Essa ação será a manifestação da justica de Deus (dikaiosyne‘), porque demonstrará, apesar de todas as aparências contrárias, a fidelidade de Deus para com o seu povo da aliança; a salvação constituirá uma vindicação do nome de Deus e do seu povo que confia nele através do sofrimento e do exílio.(39)
Essas referências veterotestamentárias, e os salmos de lamentação que se encontram por trás das mesmas, tentam fornecer uma resposta para a questão da teodicéia, especificamente a questão de como Deus pode abandonar Israel. Isso se assemelha em muito à preocupação que Paulo irá abordar mais adiante em sua carta (9.27-33; 11.26-27; 15.7-13,21).

Hays também traz à tona ecos do Antigo Testamento na asseveração de Paulo de que ele não está envergonhado do evangelho (LXX, Sl 43.10; 24.2; Is 28.16; 50.7-8). Esses ecos encontram o seu sentido original dentro do contexto do tema da justiça de Deus. "Paulo não está envergonhado em relação ao evangelho precisamente porque o evangelho é a vindicação escatológica de Deus para aqueles que nele confiam — e conseqüentemente da própria fidelidade de Deus."(40) De novo, é significativo que Paulo transforme a expectativa futura original da vindicação de Deus em algo já presente.

Hays também explica a citação feita pelo apóstolo de Habacuque 2.4 em Romanos 1.17 dentro do mesmo contexto da vindicação de Deus das suas promessas a Israel. A relevância do contexto original do profeta, ao invés dos interesses do debate teológico acerca da doutrina paulina da justificação pela fé, torna-se especialmente clara à luz da questão da teodicéia levantada pelos ecos do verso anterior. Habacuque 2.4 vem como resposta de Deus à queixa do profeta de que Deus tratou Israel de maneira injusta em relação às nações.(41)

A resposta de Deus para a questão da teodicéia é: "o justo viverá pela minha fé" (LXX, evk pistewj mou),(42) isto é, a justiça que aguardará a manifestação futura da justiça de Deus, que para Paulo novamente se manifestou agora no presente. À medida que Hays elabora ainda mais a sua análise da epístola, "a pergunta impulsionadora de Romanos não é ‘como posso achar um Deus misericordioso?,’ mas ‘como podemos confiar nesse Deus alegadamente misericordioso se ele abandona suas promessas a Israel?’"(43)
A. Romanos 15.14-21

Em Romanos 15.14-21, o apóstolo considera seus próprios planos missionários ligados ao seu entendimento do plano divino para a salvação dos judeus e dos gentios, como já foi elaborado nos capítulos 9-11.(44) Ao mesmo tempo, a passagem é ligada ao tema da carta expresso em 1.16: "Na verdade, eu não me envergonho do evangelho: ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar do judeu, mas também do grego." Esse elo temático é estabelecido em 15.18-19: "pois eu não ousaria falar de coisas que Cristo não tivesse realizado por meu intermédio para obter a obediência dos gentios, em palavra e ações, pela força de sinais e prodígios, na força do Espírito de Deus" (comparar também com o prefácio da epístola em 1.1-6, especialmente os vv. 4-5 e a conclusão em 16.25-27).

Entretanto, o contexto imediato da nossa passagem (Rm15.7-13) vai ainda além da introdução (1.2-18) para incluir todas as Escrituras hebraicas, através da referência ao louvor da fidelidade de Deus por suas promessas aos patriarcas (os judeus) para que os gentios glorificassem a Deus pelas suas misericórdias.(45)
"Paulo estabelece seu argumento na afirmação de que as suas igrejas, nas quais os gentios de fato se reúnem com os judeus na adoração a Deus, devem ser o cumprimento escatológico da visão bíblica.

Dessa maneira, então, a justiça de Deus que alcança os gentios, proclamada no evangelho de Paulo, realmente é "prometida de antemão através dos profetas nas Escrituras Sagradas" (Rm 1.2), e Paulo argumenta com êxito defendendo a justiça de Deus. É por isso que estas citações em particular são uma conclusão apropriada dentro da argumentação da carta".(46)

Paulo, então, em 15.14-33, vê como alvo do seu ministério, utilizando uma imagem sacrificial, trazer os gentios para Deus. Essa oferta dos gentios (h prosfora twn evqnwn verso 16) refere-se à sua obediência a Deus (u pakohn evqnwn, verso 18, comparar com 16.26) e ecoa Isaías 66.20, onde os filhos de Israel, de todas as nações, serão trazidos como oferta ao Senhor. A missão de Paulo como ministro (leitourgoj) de Cristo Jesus aos gentios envolve um serviço sacrificial às nações, um serviço que ainda estava no futuro de Paulo enquanto ele antecipava seu próximo passo para o ocidente (15.24). Nesse caso, as expressões, "a oferta dos gentios" (h prosfora. twn evqnwn, v.16) e "a obediência dos gentios" (u pakoh n evqnwn, v.18), devem ser vistas no pano de fundo da frase "a plenitude dos gentios" (to plhrwma twn evqnwn, 11.25).(47)

Por sua vez, a expressão "a plentitude dos gentios" deriva da tradição apocalíptica judaica em geral e de Isaías 66 em particular. O mesmo ocorre com a compreensão da "Espanha" como extremis terris, portanto, uma idéia corrente na época do apóstolo. Assim, é possível entender a sua planejada viagem para a Espanha como um prelúdio apocalíptico da vinda dos gentios a Deus, especificamente a Jerusalém. Dessa maneira, a plenitude dos gentios (lembrando que a Espanha é vista como o término escatológico da terra) será alcançada em cumprimento da profecia veterotestamentária e das expectativas populares judaicas. Expondo esta perspectiva, Roger Aus conclui:

"Paulo entendeu que esse texto de Isaías significava que missionários cristãos, principalmente ele próprio e os seus assistentes, representavam uma reversão(48) completa do pensamento judaico normal a respeito do fim dos tempos, para ganhar representantes de todas as nações gentílicas e trazê-los, os gentios, e não os judeus da diáspora, para Jerusalém como uma "oferta" ou "dádiva" para o Senhor Jesus, o Messias. Essa seria a "oferta dos gentios" que Paulo menciona em Romanos 15.16".(49)

É somente à medida que Paulo continua sua missão apostólica, que a "plenitude dos gentios" será realizada como prelúdio ao drama escatológico esboçado em Romanos 9–11. Mais que os outros apóstolos, o ministério de Paulo era um apocalipse (Gl 1.12,15) de Deus, um sinal do fim iminente. E. P. Sanders chega a dizer que "toda a obra de Paulo, evangelizando e recolhendo a oferta, tinha seu contexto na peregrinação dos gentios para o monte Sião nos últimos dias."(50)

Quando Paulo escreveu Romanos, ele estava numa encruzilhada do seu ministério. Já havia "completado" a proclamação do evangelho até o Mar Adriático e agora se aproxima de Roma como uma próxima base missionária em potencial, como foi Antioquia da Síria durante o seu ministério nas províncias da Acaia e da Ásia. O verso 19 não só esclarece a sua própria perspectiva a respeito do seu ministério anterior, mas também nos dá pistas a respeito da sua eventual estratégia. Por exemplo, normalmente seguimos a orientação dos cartógrafos das viagens missionárias de Paulo que, seguindo as pistas de Atos 13.1-3, identificam o seu ponto de partida como Antioquia da Síria. O resumo de Paulo em Romanos 15, entretanto, identifica Jerusalém como o seu ponto de partida, de modo geral. E de fato Lucas confirma que Paulo esteve em Jerusalém, em missão (diakonia, Atos 12.25, ver 9.26-30 e Gl 1.18), antes de prosseguir para Antioquia e para a sua "primeira viagem missionária." Depois de completar tal viagem (At 15.2; ver Gl 2.1-10), voltou a Jerusalém para esclarecer o procedimento da sua missão e para iniciar sua "segunda viagem missionária."

A "terceira viagem" também foi precedida por uma visita a Jerusalém (Atos 18.22) e depois dela foi a partir de Jerusalém que Paulo foi levado preso para Roma. Portanto, Lucas não contradiz o testemunho de Paulo de que seu ponto inicial era Jerusalém, e não Antioquia. Assim, entendemos o apóstolo dentro da sua criação judaica e da sua formação farisaica, que provavelmente via Jerusalém como o centro do mundo, onde ele mesmo havia estudado (At 5.34; 22.3), onde Jesus havia sido crucificado e ressurreto, onde a igreja primitiva havia sido fundada e para onde o Salvador retornará a fim de inaugurar a nova era (Rm 11.26s; ver Is 27.9; 59.20s). Assim, não estranhamos a centralidade de Jerusalém na estratégia missionária paulina.(51)

Nesse sentido, a coleta mencionada em Romanos 15.25-26 demonstra a importância de Jerusalém na conceituação paulina da inauguração da era vindoura. Assim como a salvação vem para "todo Israel" somente depois da salvação da "plenitude dos gentios" (Romanos 9–11), Paulo prepara não apenas uma oferta monetária, mas também uma oferta humana. Isso ele realiza de modo representativo,(52) através do acompanhamento de um número, doutra sorte excessivamente grande, de representantes gentílicos(53) na sua viagem para Jerusalém. A idéia, então, era provocar ciúmes em alguns dos judeus através da "plenitude" dos gentios.(54) Somente essa motivação explica adequadamente o grande risco que Paulo correu a fim de levar essas "ofertas" pessoalmente a Jerusalém, um risco que levou ao seu aprisionamento e provavelmente à sua morte.

Em Romanos 15.19, Paulo não só especifica o ponto de partida das suas viagens missionárias, mas também resume o conteúdo e estratégia da sua atividade quando diz: "tenho completado o evangelho" (peplhrwkenai to euvaggelion). Não há outras ocorrências dessa expressão nas epístolas de Paulo, embora uma expressão semelhante, "completar em vocês a palavra de Deus" (eivj umaj plhrwsai to n logon tou qeou) apareça em Colossenses 1.25-27.

A menção das "nações" nessa passagem aumenta ainda mais a sua utilidade para a compreensão de Romanos 15.19.
A expressão pode ter vários significados. Certamente, Paulo não está se referindo a algo que ele fez com o evangelho ou a "palavra." Deus o havia dado plenamente. Paulo teria que proclamá-lo. Também o termo provavelmente não se refere ao conteúdo da pregação de Paulo, se bem que poderia qualificar a interpretação de Paulo das implicações do evangelho para a inclusão dos gentios sem se sujeitarem às exigências da lei. Afinal, isto está no pano de fundo de quase todas as cartas de Paulo. Mas em Romanos 15.19 é melhor entender a expressão "tenho completado o evangelho" como uma referência geográfica. Pois a sua elaboração no próximo versículo desenvolve a linha de pensamento dessa maneira e essa interpretação se enquadra no contexto temático do termo "evangelho" nas origens missionárias da fé, como fica evidenciado em 1 Tessalonicenses 1.2-2.16; 3.2.(55)

Isso não quer dizer que apenas Paulo fazia toda a pregação. O verso 20 não permite tal conclusão. Ao invés disto, onde outros não haviam pregado o evangelho nesta ou naquela região, Paulo fazia questão de pregá-lo, e dessa forma ele "completava" ou "terminava" a atividade inicial da pregação naquelas províncias da Grécia, da Ásia Menor, da Síria e da Palestina, onde Cristo não havia sido previamente pregado. Isso não significa que cada local ou até mesmo cada indivíduo precisava ser atingido, mas apenas que o evangelho era pregado e frutificava dentro das principais províncias daquelas regiões. Portanto, ao "completar" o evangelho, Paulo não estava criticando a pregação dos outros como sendo incompleta. Como ele reconhece e elogia o ministério dos cristãos romanos (Rm 15.14), em outras ocasiões também reconhece e elogia o ministério evangelístico de outros (ver 1 Ts 1.8). Por isso mesmo, ele podia dar prioridade às regiões que considerava ainda possuidoras de lacunas.

Mais uma pista sobre a extensão e o procedimento das viagens missionárias de Paulo encontra-se em Romanos 15.19. Se Jerusalém é seu ponto de referência, a Espanha pelo menos um alvo eventual, e o preenchimento de lacunas regionais o seu procedimento, então o uso da expressão adverbial kuklw pode fornecer pistas sobre os seus planos ainda depois da Espanha, o que ele nunca chega a explicitar. No Novo Testamento, o termo normalmente significa "círculo" e se liga não a VIerousalhm ("desde Jerusalém e circunvizinhanças"), mas a VIllurikon ("circulando até o Ilírico").(56)
John Knox sugere que kuklw alude a uma ou várias viagens de ida-e-volta entre Jerusalém e o Ilírico. A idéia recebe apoio do manuscrito ocidental do texto que coloca kai kuklw depois de VIllurikon.

Então, o apóstolo talvez esteja pensando em todo o seu empreendimento evangelístico como algo que se passa dentro do círculo das nações mediterrâneas.(57) Até esse momento, Paulo havia "preenchido" as lacunas daquelas regiões onde Cristo não fora anteriormente pregado e assim "completado" a pregação num percurso mediterrâneo circular de aproximadamente 90 graus. Agora ele contempla os próximos 90 graus até a Espanha. É possível, portanto, que o uso por Paulo de kuklw reflita os seus planos futuros de continuar o círculo para as nações do Mar Mediterrâneo até alcançar eventualmente Jerusalém no retorno, o alvo apocalíptico das suas jornadas missionárias circulares cada vez mais abrangentes.

Nossas observações anteriores sobre a importância de Jerusalém para Paulo como a fase final da parousia apocalíptica de Cristo apoia essa interpretação de kuklw. Essa interpretação também ajuda a esclarecer tanto a referência anterior a Jerusalém como o ponto de partida necessário para as atividades missionárias de Paulo (v. 19), quanto a referência mais adiante a Jerusalém como o alvo imediato dos seus planos de viagem. Essa última referência não é casual, mas demonstra o papel da "plenitude" dos gentios em provocar alguns dos judeus à salvação através de ciúmes. Conseqüentemente a ligação entre Romanos 15.14-21 e Romanos 9–11 é crucial.

C. Romanos 9–11

Nestes capítulos Paulo aborda a questão crescente da vindicação divina de Israel, uma questão que emerge como conseqüência lógica do argumento de Paulo nos capítulos anteriores de que as bênçãos da aliança de Deus agora estão graciosamente disponíveis aos gentios.(58) Romanos 9–11 é o clímax desse argumento teológico e também serve para focalizar a preocupação pastoral de Paulo nos capítulos posteriores pela unidade das congregações romanas, divididas entre cristãos gentílicos e cristãos judaicos.

Em Cristo Jesus, Deus demonstra a sua justiça e cumpre as suas promessas de ser uma bênção para Israel e, através de Israel, abençoar todas as nações. Como essas promessas são cumpridas histórica e teologicamente — começando com Abraão e continuando através dos profetas — é o tema de Romanos 9–11.

1. Resumo

Em síntese, o argumento se desdobra assim: Romanos 9.1-5 estabelece o palco de todo o argumento dos capítulos 9–11, ainda que em ordem um pouco diferente (ver a tabela a seguir).
Comparação Temática de Romanos 9.1- 5 com Romanos 9.6–11.36
9.1-3 A descrença de Israel e a fidelidade de Deus 11.1-32
9.4-5a A verdadeira identidade de Israel 9.6-29
9.5b Jesus Cristo, a chave hermenêutica 9.6-10.21
9.5c Doxologia 11.33-36

Primeiramente, a dor que Paulo expressa em 9.1-3 antecipa a pergunta sugerida no final (e no clímax) da capítulo 8. O clímax é que nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor. A pergunta que esse clímax levanta pode ser parafraseada da seguinte maneira: "E o povo da aliança do próprio Deus? Se as bênçãos de Deus elaboradas nos capítulos 1-8 estão agora livremente disponíveis aos gentios, não são mais ‘a adoção, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas’ ( 9.4)(59) possessão, por direito, de Israel?" Mas é somente depois de ser provocada mais uma vez em 10.18-21 que a pergunta será feita claramente em 11.1: "Pergunto então, Deus rejeitou o seu povo?"(60)

A resposta desta pergunta é o enfoque de 11.1-32 e se explica através da referência ao princípio do remanescente. Um remanescente crente e fiel de judeus está sendo salvo e isto representa o cumprimento das promessas de Deus; por essa razão, Deus está vindicado de todas as acusações de infidelidade dentro da interpretação paulina do evangelho.(61)

Em segundo lugar, a lista de privilégios de 9.4 levanta mais uma pergunta: "Exatamente quem é o Israel de Deus?" Esta é uma pergunta sectária natural e comum na literatura apocalíptica. A pergunta é respondida inicialmente através de um panorama histórico em 9.6-29 que trata da fidelidade que a aliança exige, e finalmente através de uma exposição sobre o meio pelo qual Deus justifica em 9.30-33, este meio sendo a pedra de Sião, que assegura a vindicação divina. A eleição não é questão de descendência física e Deus não é inconsistente quando elege os filhos espirituais de Abraão, inclusive os gentios (9.24).(62)

Em terceiro lugar, o maior privilégio judeu em 9.5, o surgimento do Messias ("sobre todos"), que é a chave para a questão da justiça de Deus ("Deus bendito para todo o sempre"), torna-se o tema da afirmação central de 9.30-10.21 em 10.3s, que, por sua vez, não deixa dúvida a respeito da identidade última da pedra de Sião, (63) mencionada poucos versículos antes.(64) Portanto, a justiça de alguém (tanto judeu quanto gentio,(65) 10.4, 12s) vem somente através de fé em Jesus Cristo (10.5-8, como foi o caso ao longo dos capítulos 1-8), especificamente através da crença na sua morte e ressurreição (10.9-13), o alvo da lei ou o clímax da aliança,(66) que, então, exige a devida notificação (10.14-17).

Finalmente, a bênção de 9.5b em referência ao Messias em 9.5a, "Deus bendito para todo o sempre, Amém," é expandida na doxologia elaborada de 11.33-36, também precedida de uma referência ao "Libertador de Sião" (11.26). Este é, portanto, o formato básico de Romanos 9–11 que 9.1-5 já antecipa.

Dr. Timóteo Carriker PhD

Seminário Teológico do Sul

COMO PASSAR O DIA COM DEUS: RICHARD BAXTER



“Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”.


Sono

Controle o tempo do seu sono apropriadamente, de modo que você não desperdice as preciosas horas da manhã preguiçosamente em sua cama. O tempo do seu sono deve ser determinado pela sua saúde e labor, e não pelo prazer da preguiça.


Primeiros Pensamentos

Dirijam a Deus os seus primeiros pensamentos ao acordar, elevem a Ele o coração com reverência e gratidão pelo descanso desfrutado durante a noite e confiem-se a Ele no dia que inicia.

Familiarizem-se tão consistentemente com isto, até que a consciência de vocês venha a acusá-los quando pensamentos ordinários queiram insurgir em primeiro lugar. Pensem na misericórdia de uma noite de descanso, mal acomodados, padecendo dores e enfermidades, cansados do corpo e da vida.

Pensem em quantas almas foram separadas dos seus corpos nesta noite, aterrorizadas por terem que se apresentar diante de Deus, e em quão rapidamente os dias e noites estão passando! Quão rapidamente a última noite e dia de vocês virão! Considerem no que está faltando no preparo da alma de vocês para tal momento e busquem isso sem demora.


Oração

Acostumem-se a orar sozinhos (ou com o cônjuge) antes da oração coletiva em família. Se possível, que isto seja feito antes de qualquer outra ocupação.


Culto Familiar

Realizem o culto familiar consistentemente e em uma hora em que é mais provável que a família não sofra interrupções.


Propósito Básico

Lembrem-se do propósito básico da vida de vocês, e quando estiverem se preparando para trabalhar ou realizar atividade neste mundo, que a inscrição santos para o Senhor esteja gravada no coração de vocês em tudo o que fizerem.

Não realizem nenhuma atividade que não possam considerar agradável a Deus, e que não possam verdadeiramente afirmar que Deus a aprova. Não façam nada neste mundo com nenhum outro propósito que não agradar a Deus, glorificá-lO e gozá-lO. O que quer que fizerdes, fazei tudo para a glória de Deus (1 Co.10:31).


Diligência na Vocação

Realizem as tarefas concernentes à ocupação de vocês cuidadosa e diligentemente. Assim fazendo:

1. Vocês demonstrarão que não são preguiçosos e escravos da carne (como aqueles que não podem negar-lhe o comodismo); e estarão mortificando todas as paixões e desejos que são alimentados pelo comodismo e preguiça.

2. Vocês estarão mantendo fora da mente os pensamentos indignos que fervilham nas mentes de pessoas desocupadas.

3. Vocês não estarão desperdiçando tempo precioso, algo do que pessoas desocupadas se tornam diariamente culpadas.

4. Vocês estarão num caminho de obediência a Deus, enquanto que os preguiçosos estão em constante pecado de omissão.

5. Vocês poderão dispor de mais tempo para empregar em deveres santos se realizarem suas tarefas com diligência. Pessoas desocupadas não têm tempo para os deveres espirituais, porque desperdiçam tempo demorando-se em seus trabalhos.

6. Vocês poderão esperar bênçãos da parte de Deus e provisões confortáveis para vocês e para as suas famílias.

7. Isto também pode exercitar o corpo de vocês, o que poderá habilitá-los mais para o serviço da alma.


Tentações e coisas que Corrompem

Estejam perfeitamente familiarizados com as tentações e coisas que tendem a corromper você, e sejam vigilantes o dia todo contra isso. Vocês devem estar alertas especialmente para as tentações que têm se mostrado mais perigosas e cuja presença ou emprego sejam inevitáveis.

Estejam alertas contra os pecados mestres da incredulidade: a hipocrisia, a auto-suficiência, o orgulho, o agradar a carne e o prazer excessivo nas coisas terrenas. Tenham cuidado para não se deixarem atrair para uma mente mundana, e para os cuidados excessivos , ou desejos cobiçosos pela abastança, sob a pretensão de serem diligentes no trabalho de vocês.

Se tiverem que negociar com outras pessoas, tenham cuidado contra o egoísmo ou qualquer coisa que se assemelhe à injustiça ou falta de caridade. Ao lidar com as pessoas, estejam alertas para não usarem de palavras vãs e desocupadas.

Sejam vigilantes também com relação às pessoas que tentam vocês à ira (ou a qualquer tipo de pecado). Mantenham a modéstia e a clareza, no falar, que as leis da pureza requerem. Se tiverem que conviver com bajuladores, sejam vigilantes para não se deixarem inchar de orgulho.

Se tiverem de conviver com pessoas que desprezam ou injuriem vocês, resistam contra a impaciência e o orgulho vingativo.

No início estas coisas serão muito difíceis, enquanto o pecado for forte em vocês. Mas tão logo tiverem adquirido profunda compreensão do perigoso veneno de qualquer destes pecados, o coração de vocês irá pronta e facilmente evitá-los.


Meditação

Quando estiverem sozinhos nas ocupações de vocês, aprendam a remir o tempo em meditações práticas e benéficas. Meditem na infinita bondade e perfeições de Deus, em Cristo e na obra da redenção, nos céus e em quão indignos são de irem para lá e em como vocês merecem a miséria eterna do inferno.


Remindo o Tempo

Valorizem o tempo de vocês. Sejam mais cuidadosos em não desperdiçá-lo do que o são em não desperdiçar dinheiro. Não permitam que recreações inúteis, conversas vãs e companhias não proveitosas, ou o sono roubem o preciosos tempo de vocês.

Sejam mais cuidadosos em escapar das pessoas, ações ou situações da vida que tendem a roubar o tempo de vocês do que o seriam em escapar de ladrões ou salteadores.

Certifiquem-se não apenas de não estarem sendo desocupados, mas de estarem usado o tempo de vocês da maneira mais proveitosa possível. Não prefiram um caminho menos proveitosos à um outro de maior proveito.


Comer e Beber

Comam e bebam com moderação e gratidão, para serem saudáveis e não por prazer inútil. Jamais satisfaçam o apetite pela comida ou bebida quando isto tender a fazer mal à saúde de vocês.

Lembrem-se do pecado de Sodoma: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade, teve ela e suas filhas...” (Ez.16:49).

O Apóstolo Paulo chorou quando mencionou aqueles: “cujo destino é a destruição, cujo deus é o ventre, e cuja glória está na infâmia; visto que só se preocupam com as coisas terrenas” (Fp.3:19). Estes são chamados de inimigos da cruz de Cristo (v.18). “Porque se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Rm.8:13).


Pecados Prevalecentes (queda em pecado)

Se qualquer tentação prevalecer, e vocês vierem a cair em qualquer pecado adicional às deficiências habituais de vocês, lamentem imediatamente e confessem isto a Deus. Arrependam-se rapidamente, custe o que custar. Certamente custará mais ainda continuar no pecado e sem arrependimento.

Não façam pouco caso das falhas habituais de vocês, mas confessem-nas e esforcem-se diariamente contra elas, tendo cuidado para não agravá-las pela falta de arrependimento e pelo descaso.


Relacionamentos

Atentes diariamente para os deveres especiais relativos aos vários relacionamentos de vocês, seja na condição de maridos, esposas, filhos, patrões, empregados, pastores cidadãos ou autoridades.

Lembrem-se que cada relação tem seus deveres especiais e seus proveitos da realização de algum bem. Deus requer de vocês fidelidade nestes relacionamentos, bem como em quaisquer outros deveres.


Ao Final do Dia

Antes de dormir, é sábio e necessário relembrar as nossas atitudes e misericórdias recebidas durante o dia que termina, de maneira que sejam agradecidos por todas as misericórdias recebidas e humilhados por todos os pecados cometidos.

Isto é necessário a fim de que vocês possam renovar o arrependimento bem como ser mais resolutos na obediência, e a fim de que examinem a si mesmos, para ver se a alma de vocês progrediu ou piorou, para ver se o pecado foi diminuído e a graça aumentada; e para avaliar se vocês estão mais preparados para o sofrimento, para a morte e para e eternidade.


Conclusão

Que estas instruções sejam gravadas na mente de vocês e se tornem prática diária nas suas vidas.

Se vocês observarem sinceramente estas instruções, elas conduzirão vocês à santidade, à frutificação, à tranqüilidade na vida, e ainda acrescentarão a vocês uma morte confortável e em paz.




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Nota sobre o Autor: O Rev. Richard Baxter foi um conhecido pastor reformado, o qual viveu na Inglaterra durante o século XVII (1615 - 1691). Era um não-conformista, que tentou reformar a Igreja da Inglaterra, sendo muitas vezes preso por isso. Dentre os seus livros mais importantes estão: O Pastor Reformado (PES), O Descanso Eterno dos Santos, A Vida Divina, Um Tratado sobre a Conversão, Um Apelo ao não Convertido, Agora ou Nunca, Convite para Viver (PES) e muitos outros clássicos evangélicos.

Os escritos, a pregação e a vida de Baxter produziram um inegável reavivamento espiritual na cidade de Kdderminster, onde realizou o seu ministério. Quando ele chegou na cidade, eram poucos os crentes e duvidosas as suas conversões. Algum tempo depois , entretanto, o templo de sua igreja teve que ser aumentado - ainda assim não comportava mais as pessoas, que escalavam as janelas para ouvir suas pregações; muitas ruas da cidade tiveram todos os seus moradores convertidos; podia-se ouvir centenas de pessoas cantando hinos de louvor a Deus em plena rua; e as conversões davam provas suficientes de serem sinceras e profundas.


Tradução: Pastor Paulo Anglada

quarta-feira, 11 de junho de 2008

PROFESSORES DO S.T.S. CIÊNCIA DA RELIGIÃO


Walmir Damiani Corrêa

Nascido em 08/06/1946, em Tubarão/SC, filho de José Orlandi Corrêa e Lília Damiani Corrêa, segundo de uma família de quatro irmãos.


Cursou seu Ensino Fundamental e Médio no Colégio São José e na Escola Técnica de Comércio de Tubarão, formando-se como Técnico em Contabilidade.
No Ensino Superior, formou-se na primeira turma da conceituada Unisul – “Universidade do Sul de Santa Catarina" (1972) como professor de línguas (habilitação em Inglês e Português).

Desempenha sua profissão desde 1973, completando 35 anos de efetivo magistério neste ano de 2008, passando por todos os colégios particulares da cidade e por quase todos os colégios públicos. Para melhor cumprir sua carreira, sempre participou de muitos cursos de aperfeiçoamento e capacitação. Por alguns anos foi Diretor de Ensino Médio do Colégio São José.

Como autor, escreveu o livro “Escreva tudo fácil”, um manual que ensina a confeccionar correspondências, além de trazer uma revisão gramatical da Língua Portuguesa para leigos. Esse livro foi editado e vendido em todo o território brasileiro por algum tempo. Também lançou várias coleções didáticas para ensino da Língua Inglesa, coleções essas que tem sido adotada por escolas tubaronenses e de cidades vizinhas.

Como evangélico, é membro da Igreja ADI desde 1987, por muitos anos exerceu a função de Secretário-geral da Igreja e membro do Conselho Administrativo. Como aperfeiçoamento dos seus conhecimentos bíblicos, cursou durante quatro anos o SEAD – Seminário por Extensão das Assembléias de Deus, um curso teológico de São Paulo, mas ministrado em Tubarão.

Como autor na área evangélica, escreveu o livro “Os personagens anônimos da Bíblia”, em parceria com o Pr. Bartolomeu de Andrade. Além desse, tem escrito vários trabalhos de pesquisa, normalmente optando por assuntos polêmicos e históricos.

Também já escreveu trabalhos sobre a história da Igreja ADI, suas origens, e uma revista comemorativa aos 25 anos da sua igreja. Atualmente no campo teológico é professor de Ciência da Religião e de História Eclesiástica na temática a Inserção do Protestantismo no Brasil no Seminário Teológico do Sul – S.T.S. na cidade de Tubarão Santa Catarina

SEMINÁRIO TEOLÓGICO DO SUL - S.T.S.

terça-feira, 10 de junho de 2008

SALA ONLINE DE TEOLOGIA - S.T.S. CIÊNCIA DA RELIGIÃO

Bem vindos a Sala Online de Teologia do S.T.S. Esta foto da criança lendo um livro com sede de aprender é o símbolo da nossa sala online.

Todas as matérias do currículo do S.T.S. vão ser colocadas aqui em seus desdobramentos e ângulos teológicos. Os professores irão colocar aqui as sínteses das aulas e as leituras obrigatórias.

Nesta Segunda-Feira 09/06/2008 o professor Walmir Damiani Correa deu inicio a matéria "Ciência da Religião" no S.T.S.

Ciência da Religião é a disciplina que investiga
sistematicamente a religião em todas as suas manifestações, não questionando a verdade ou a qualidade de nenhuma delas. Essa investigação utiliza-se de várias ciências como a Antropologia, a filosofia, a História, a Psicologia, e Fenomenologia da Religião, a Sociologia e a Teologia, entre outras.

§ NEUTRALIDADE FRENTE AOS OBJETOS DE ESTUDO
§ NÃO QUESTIONA A VERDADE OU QUALIDADE DE UMA RELIGIÃO


A N T R O P O L O G I A

Ciência que descreve os seres humanos, analisando-os com base nas características biológicas e socioculturais dos diversos grupos em que se encontram, dando ênfase às diferenças e variações entre esses grupos.

F I L O S O F I A

Conjunto de doutrinas de uma determinada época ou país, visando a formação de um indivíduo crítico e responsável socialmente pelos seus atos. Incentiva a leitura, a observação, as transformações sociais ocorridas, etc.

H I S T Ó R I A

― Ciência que estuda o passado, vive o presente e projeta o futuro.
― Conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição ou por meio dos documentos, relativos à evolução e ao passado da humanidade.

P S I C O L O G I A

Conjunto de estados e disposições psíquicas de idéias de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos.

F E N O M E N O L O G I A

Estudo descritivo de um fenômeno ou de um conjunto de fenômenos que se opõem às realidades de manifestação existentes.

S O C I O L O G I A

Estudo objetivo das relações estabelecidas, consciente ou inconscientemente, entre pessoas que vivem numa comunidade ou num grupo social, ou entre grupos sociais diferentes que vivem no seio de uma sociedade mais ampla.

T E O L O G I A

Estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com o mundo e com os homens, e à verdade religiosa.


Objetivos

§ Estudo profundo de cada religião em particular;
§ Fazer análise comparativa com outras religiões;
§ Levantar similaridades e diferenças encontradas;
§ Intelectuais europeus compararam religiões com o cristianismo, levando-os a análises equivocadas sobre elas;


Diversidade de Religiões

PRIMITIVAS ............................ As primeiras
HISTÓRICAS ......................... As que se mantivera,
PROFÉTICAS ......................... As que cumprem o que predizem
MONOTEÍSTAS ...................... Um só Deus
Politeístas ......................... Vários deuses
DE MAGIAS ........................... Espiritualistas
DA NATUREZA ...................... Ordem Rosacruz, Esoterismo
MUNDIAIS ............................... As ramificadas

VIVAS....................................... As que mudam sempre


COMO SE APRESENTAM


§ COMUNIDADE ― migrações sem controle (brigas, visões diferentes...)
Vivência de valores religiosos semelhantes

§ COM RITOS ― religião sem atos vira associação filosófica, teórica
§ CONJUNTO DE DOUTRINAS
§ EXPERIÊNCIA RELIGIOSA
― anima ensinamentos e ritos transmitidos.
Falta de experiências faz a fé ficar vulnerável

Obs: Os matérias acadêmicos do S.T.S. Online está a disposição de todos. Com isto gostariamos que no uso desses materiais fossem citados as fontes: "Seminário e Autor".

SEMINÁRIO TEOLÓGICO DO SUL - S.T.S.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Derramando o Coração ao Senhor é Render-lhe Glória

Rev. Warren W. Wiersbe

Adoração não é uma opção, é uma obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma outra assembléia pode fazer. Mas, não estou bem certo de que estejamos fazendo isto.

William Temple disse: “A única coisa que pode salvar este mundo do caos político e do colapso é a adoração”. A única esperança do mundo é a igreja e a única esperança da igreja é o retorno à adoração. Deus precisa transformar o Seu povo e a Sua igreja antes que Ele possa operar através de nós a fim de saciar as necessidades cruciais de um mundo perdido no pecado. Cada ministério da igreja deveria ser um subproduto da adoração. Ministério divorciado de adoração não tem raízes e, portanto não pode produzir frutos que permaneçam.

Não se trata de escolher um ou outro. Por exemplo, nenhuma igreja abandona o evangelismo quando retorna à adoração. Ao contrário, com isto enriquece o evangelismo e dá-lhe profundidade espiritual. Um retorno à adoração não destrói uma boa comunhão. No mínimo coloca naquela comunhão um fundamento muito mais sólido do que café com bolinhos ou chá com biscoitos.

Entretanto eu não estou tentando convencê-lo de que uma volta à adoração é algo fácil. Não é. Um motivo disso é que, dada a natureza humana como ela é, nós não temos um desejo natural de buscar o Senhor e chegar mais perto Dele. Só o Espírito Santo de Deus pode criar dentro de nós o desejo profundo de adoração, de dar a Deus nossa adoração amorosa completa. Antes que o Espírito possa nos levar até aquele lugar, precisamos tratar com os nossos pecados, e tratar com os nossos pecados não é uma tarefa fácil.

Um outro obstáculo é o nosso aparente sucesso. “A igreja está indo bem”, dizem os oficiais, “e as contas estão sendo pagas; por que complicar as coisas?” Sempre que eu converso sobre adoração com as pessoas, ouço o seguinte: “Mas algumas das maiores igrejas do mundo não sabem nada de adoração e Deus as está abençoando vidas e crescendo cada vez mais.” Somente Deus sabe como vão realmente as coisas em qualquer igreja... Mas eu sinto que nem tudo vai bem com algumas das igrejas ditas “bem-sucedidas”. Acredito que estão inchadas e não cheias.

Cada vez mais, algumas das “grandes igrejas” estão tendo dificuldades em encontrar “grandes pastores” para ocuparem os seus púlpitos. Em algumas cidades os crentes saltam de uma igreja para outra buscando muito mais “pregações profundas e eloqüentes, louvores quentes e fervorosos e poder e poder” do que uma vida cristã com compromisso prático com o Ide de Jesus. A igreja que eles vão escolher depende de quem está no púlpito e de quem está tocando e cantando, e hoje há uma grande variedade de celebridades evangélicas que com certeza arrastam multidões. O fato de que algumas delas possam não ter o melhor desempenho em seus lares ou em sua vida pessoal não parece ser importante para aqueles membros da igreja que estão buscando somente um passatempo para um fim de tarde. Um “Show Gospel”. Querem ir para ver o que querem ver e o ouvir.

Um retorno à adoração poderia ser uma ameaça para aquele pregador que gosta de ser importante e de brincar de Deus nas vidas das pessoas do seu rebanho. Ou para o pregador que aperfeiçoou de tal modo um sistema de preparação de sermões que sempre consegue um bom esboço e tema a cada semana. Ou para o pregador que é tão bom na plataforma que consegue “segurar a peteca” e manter a congregação interessada e entretida.
Um retorno à adoração pode ser uma ameaça para o músico que prefere mais tocar do que ministrar, e que não tem nenhuma intenção de alinhar a sua vida no dia a dia com a sua profissão domingueira.

Um retorno à adoração pode ser uma ameaça para o membro da igreja que não quer ser perturbado. Ele preenche com fidelidade o seu lugar semanalmente na igreja, paga os seus dízimos e de vez em quando realiza um trabalho para a igreja; mas o que acontece na igreja não tem nada a ver com o resto da sua vida. Ele vai levando e isso é o que interessa. O que será necessário? O que será necessário para nos motivar a adorar a Deus? O que terá de acontecer para que desmantelemos nosso esfarrapado showzinho religioso e construamos de novo um altar para o Senhor?

O maior castigo que Deus poderia aplicar nas igrejas hoje seria retirar-se, e deixá-las continuar fazendo exatamente o que estão fazendo. Uma vez li A.W.Tozer dizer: “Se Deus tirasse o Seu Santo Espírito deste mundo, o que estamos fazendo continuaria sendo feito, e ninguém notaria a diferença.” Dura verdade!

Oro para que Deus na Sua misericórdia não nos abandone, mas nos dê outra oportunidade. Temos convivido com substitutos por tanto tempo que se por acaso acontecesse um reavivamento de adoração, muitos dentre o povo de Deus provavelmente o veriam como uma ameaça ao evangelho! Será que nós queremos realmente adorar a Deus? Estamos realmente dispostos a abrir mão de nossos brinquedinhos religiosos e trabalhar sério com Ele? Podemos abandonar nossas visões pragmáticas de ministério na igreja (“Bem, mas funciona! Não se pode argumentar contra o sucesso!”) e voltarmos à visão bíblica de Deus?

Talvez Deus não pretenda nos deixar onde nós estamos. Talvez Ele permita uma crise econômica que forçará as igrejas a examinarem as suas prioridades e voltarem para as coisas que são mais importantes. Talvez Ele permita perseguições, um “julgamento de fogo” que separará o ouro da escória. Dias virão em que não seja tão popular pertencer a uma igreja evangélica e quando o evangelicalismo não mais receberá o patrocínio de pessoas importantes.

Ou talvez Deus trate com crentes individuais aqui e ali, pessoas sinceras que confessem a sua desesperadora necessidade de realidade espiritual. Talvez Ele sussurre para algumas destas almas famintas que não estão satisfeitas com a rotina religiosa de semana após semana, que sinceramente querem adorar a Deus e experimentar o Seu poder transformador. Ele pode se aproximar daqueles poucos santos resistentes que temem a Deus mais do que às pressões sociais, e que não se sentem ameaçados por mudanças.

Na verdade você poderia ser um destes santos!
Deus muda igrejas mudando indivíduos. O coração de John Wesley foi estranhamente aquecido, e o resultado foi um reavivamento que livrou a Inglaterra de um banho de sangue que quase destruiu a França. A história da igreja está cheia de nomes de homens e mulheres que transformaram igrejas e ministraram ao mundo, porque permitiram que Deus os transformasse. Eles eram adoradores e guerreiros, e Deus os usou. Eles eram transformadores, não conformadores. As suas vidas eram controladas por um poder interno, não por pressões externas.

Eles foram mal entendidos e criticados; foram até aprisionados e mortos. O seu maior inimigo era a instituição religiosa da sua época, os líderes religiosos bem-sucedidos que de há muito perderam contato com a realidade espiritual e estavam vivendo somente da sua reputação.
Onde você começa?

Você começa na sua própria casa, na sua própria vida devocional. Você começa cada dia com Deus - não na leitura de um devocional do tipo versículo–oração-poesia, mas gastando tempo na Sua Palavra, em meditação e adoração, e em oração.
Tempo. É aqui que começa a dificuldade. Nós não tiramos “tempo para ser santos”. Nós nos satisfazemos com um “lanche (fast-food) religioso” que é embalado para uma consumação rápida. Talvez um lanchinho seja melhor do que nada, afinal de contas, mas é um substituto muito pobre para a adoração verdadeira. É só perceber como são cada vez menores nossos livros devocionais de cabeceira.

A adoração verdadeira toma tempo e uma das evidências de que estamos começando a progredir na nossa vida espiritual é a paz que vem sobre a alma à medida que nos colocamos diante do Senhor. Ficamos conscientes do tempo, mas não somos controlados por ele. Alegramo-nos em permanecer diante do Senhor, deleitando-nos com a Sua maravilha e a Sua grandeza.

Este tipo de experiência edificante é só para grandes santos e místicos? Claro que não! Foi um pescador que escreveu “E vimos a Sua glória” (João 1.14). E um outro pescador escreveu “no qual, não vendo agora, mas crendo, exultai com alegria indizível e cheia de glória!”(I Pedro 1.8). Você se lembra das palavras do Salvador: “Graças te dou ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”? (Mateus 11.25).
Devemos começar com as nossas próprias vidas, nossa adoração pessoal a Deus.

E à medida que crescemos, não devemos criticar os outros e tentar mudar tudo dentro da igreja. A verdadeira transformação espiritual deve vir de dentro para fora. Precisamos ter cuidado com as mudanças cosméticas que não afetam o coração da igreja. O cântico de hinos diferentes, alteração da ordem do culto, ou mesmo as mudanças nos móveis da igreja, nunca transformarão uma igreja. É preciso que o Espírito atue nos corações, e isto toma tempo.

Nem deveríamos nos tornar em aquilo que chamamos de “intelectuais espirituais” que concordam em prestar culto junto com os ignorantes e não espirituais, mas que prefeririam estar em outro lugar gozando da atmosfera rica de um “verdadeiro” culto de adoração. Nosso Senhor quando na terra freqüentava a sinagoga e o templo, apesar de ambos estarem nas mãos de líderes religiosos que resistiam à verdade.

Um transformador espiritual pode entrar até num culto de crianças na Escola Dominical e experimentar a bênção e ser uma bênção. Um transformador está sempre adorando a Deus, sempre sedento e faminto de mais graça e glória de Deus, e sempre aberto a quaisquer influências espirituais que o Pai possa trazer para a vida dele ou dela.

Sim, começamos conosco mesmos, e deixamos que Deus trabalhe em nós e através de nós da maneira especial que é só Dele. Evitamos imitar outros santos e, pela fé, permitimos que Deus nos desenvolva do Seu jeito. Também evitamos copiar outras igrejas, sabendo que cada assembléia local deve atender ao seu próprio chamado especial. Demorei muitos anos para perceber que os pronomes pessoais nos versículos 12 e 13 do cap.2 de Filipenses estão no plural: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; por que Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a Sua boa vontade.” Paulo estava escrevendo para uma congregação inteira.

Assuma a liderança

Talvez você seja um pastor e esteja desejando que a sua igreja desenvolva uma fome e uma sede pela realidade espiritual. Você quer que eles adorem a Deus e se tornem em transformadores, de tal modo que a igreja possa realmente ministrar para as necessidades que você vê em toda a parte ao seu redor e pelo mundo todo. O que é que você faz?
Penso que o conselho acima se aplica a você e aos líderes da sua igreja: Verifique se a sua própria experiência de adoração está viva e crescendo. Se está, haverá uma nova ênfase e enriquecimento na sua liderança do culto público, tanto quanto no seu ministério pastoral nos lares e nos hospitais.

Guarde zelosamente o seu tempo diário pessoal com o Senhor. Pratique disciplina espiritual. Isto significa com certeza o estabelecimento de algumas prioridades e o aprendizado de como dizer “não”; mas este é o preço a ser pago. Você não pode ser um transformador e agradara todos em toda a ocasião, e nem deveria tentar.

Tive o privilégio de visitar muitas Igrejas e nelas ministrar para muitos pastores e obreiros cristãos em conferências em muitos lugares. Um dos problemas que eu vejo é que os ministros estão carregando muita bagagem. Ao longo dos anos eles assumiram diversas tarefas, clubes, associações, e por aí afora, e estão tentando cuidar de tudo isto e ao mesmo tempo desempenhar o seu ministério. Esta bagagem extra toma tempo para organizar e energia para carregar, e custa muito caro. Chamo de “pastores de eventos”.

Se a adoração não resultar em nenhum outro benefício para nós, pelo menos nos ajudará a descobrir quais as coisas que são importantes; e ninguém precisa mais disto do que o pastor ou o obreiro cristão. É preciso coragem, mas precisamos nos livrar da bagagem extra e começar a carregar somente os fardos que Ele coloca sobre nós. Isto não significa eliminar coisas ruins na nossa vida (extras), sermos verdadeiros pastores, porque não deveria haver valores ruins na nossa vida! Significa dizer adeus a coisas boas, coisas agradáveis, até coisas de sucesso, porque elas estão no nosso caminho, roubando-nos o tempo e a energia que precisamos para buscar a Deus e servi-Lo. Com isso retornamos a ser Pastores de Ovelhas e assim reconduzí-los a adoração!

A partir do momento que você tem a sua vida equilibrada diante de Deus, você pode começar a liderar outros na sua igreja na adoração a Deus e na busca da Sua face. Levará tempo, por isso seja paciente. As pessoas não querem mudar. Ensine-as ternamente e mostre o seu exemplo para elas. Algumas pessoas sairão da sua congregação e irão para onde é mais “prazeroso” para elas, mas não se desanime. Saiba que você está na vontade de Deus quando você está tentando trazer o seu povo para mais perto Dele na sua experiência de adoração. Satanás vai se opor a você, mas Deus irá defendê-lo.

Faça com que a sua pregação seja um ato de adoração, e prepare cada mensagem e cada culto de tal maneira a “proclamar as virtudes Daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”(1 Pe 2.9). Tenha em mente que a colheita não é no fim da reunião: é no fim dos tempos. Ministre pela fé. Deus promete fazer o resto.
Todos somos adoradores natos, depende de quem!

Extraído de Real Worship (Adoração Verdadeira), de Warren Wiersbe. Publicado por Thomas Nelson Publishers.


Pastor Carlos Augusto Lopes


Teólogo