terça-feira, 1 de abril de 2008

DE CIDADE EM CIDADE: ELEMENTOS PARA UMA TEOLOGIA BÍBLICA DA MISSÃO URBANA EM LUCAS-ATOS.


BARRO, Henrique Jorge. De Cidade em Cidade: Elementos para uma Teologia bíblica de missão urbana em Lucas – Atos.

Jorge Henrique Barro, doutor em teologia pelo Fuller Theological Seminary (EUA), mestre em missiologia pela mesma instituição é diretor e professor da Faculdade Teológica Sul Americana e diretor executivo da Fraternidade Teológica Latino Americana é pastor presbiteriano e autor de vários livros que tem contribuído para a comunidade evangélica no Brasil.

Em seu livro “ De cidade em Cidade” que é fruto colhido da sua tese de doutorado, o autor nos leva a ter uma visão bíblica da teologia da cidade oriunda do livro de Lucas e Atos dos Apóstolos. O Dr. Jorge Henrique Barro divide o seu livro em sete partes para a nossa compreensão de sua linha mestra que é justamente “ O método da teologia de missão de Lucas” a “ Missio Dei: Deus continua a trazer salvação para o seu povo” e também a “ Missio Christi: Deus traz a salvação através de Jesus Cristo. ”

Ele continua mostrando a “ Missio Spiritu Sancti: o Espírito Santo comissiona o povo de Deus a proclamar a salvação” e aborda finalizando “ Os pobres em Lucas e Atos”, “ Personagens-Tipo em Lucas - Atos” e conclui com “ Recomendações”, dando uma visão macro para o desenvolvimento de uma missiologia integral trinitariana.

O autor nos mostra que Lucas de uma forma organizacional nos mostra o desenvolvimento do ministério de Jesus Cristo como também a narrativa da igreja incipiente em Atos dos Apóstolos.

Através disso o autor reflete um caminho de uma teologia bíblica da missão urbana da igreja na perspectiva Lucas- Atos. Barro deixa claro que Lucas não é simplesmente um historiador ou um teólogo estático mais é justamente no caminho que ele mostra a atividade de Jesus e sua comunidade como também os contornos geográficos, culturais etc.

Lucas mostra que a práxis de Jesus será a práxis da sua comunidade e sua preocupação narrativa é focar a salvação de Deus e sua atividade passado-presente. Ele também nos mostra que a práxis da igreja é uma conseqüência da sua experiência com o Senhor que ressuscitou e uma resposta ao seu santo chamado missionário.

Neste sentido Barro nos diz que a “ práxis”, se torna uma chave para compreender Lucas e sua teologia de missão e compreender também a teologia latino americana. O autor mostra que a centralidade da teologia lucana passa pela missão tripartiti da “Missio Dei, Missio Christi e Missio Spiritu Sancti”.

Para o autor Missão significa “ anúncio’ e isso tem implicações de continuidade e descontinuidade mostrando que Deus continua a trazer salvação para o seu povo por intermédio da “missio ecclesiarum” da missão da igreja no mundo. Essa missão eclesiológica “ universal” passa pela compreensão da missão trinitariana que é clara na teologia de “Lucas - Atos’, “ Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.”

Para Barro em sua pesquisa a missão de Jesus é missão de cidade em cidade (Lc.4.43) “ Nazaré a Jerusalém” (Lucas) e de “ Jerusalém a Roma” (Atos) pensando assim no aspecto lucano a cidade tem um foco especial, pois as boas novas foram espalhadas migrando do chão judeu para o mundo e isso é continuidade que vem através da igreja no anúncio holístico das boas novas.

Para o autor Lucas - Atos devem desempenhar um papel de centro e não excêntrico no desenvolvimento de uma teologia bíblica da missão urbana e o modelo cristológico se evidencia da periferia (Galiléia) para o centro (Jerusalém) no avanço missional e essa missão é contemplada com a unção do Espírito Santo que é fartamente mencionado por Lucas (Trinta e três vezes no seu evangelho) e (quarenta e duas vezes em Atos dos Apóstolos)

Barro nos diz com eloqüência que o programa de Jesus era um autêntico programa de salvação, no poder do Espírito Santo, trazendo libertação, perdão, cura e restauração para os excluídos da sociedade. Pensando assim o autor enfatiza que a agenda de Jesus na cidade era “ pregar a boas novas aos pobres, proclamar libertação aos cativos, restaurar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar o ano aceitável do Senhor”.

Olhando para a missão de Jesus na perspectiva da Galiléia o autor nos diz que três pontos devem ser analisados para uma compreensão sintetizada: primeiro “ A centralidade do reino de Deus”. Segundo ponto “ A Missão a partir da periferia” e terceiro ponto “ A missão a partir da autoridade de Jesus”. Barro mostra ainda várias análise na missão a partir de outras realidades messiânicas da cidade como por exemplo a cidade de Jerusalém e todas as suas implicações que nada mais é do que implicações missiológicas da cidade

Essa missão de Cidade em Cidade só pode ser possível segundo o autor pela Missio Spiritu Sancti, pois o poder do Espírito Santo torna o arrependimento e perdão possível para as nações. O autor também salienta de maneira sábia que Lucas mostra dois ingredientes que são chaves na compreensão da missão. São eles as fórmulas Cristológica “ em meu nome”, e o alcance cristológico “ a todas as nações”.

Pensando ainda no Spiritu Sancti o autor nos diz que o Santo Espírito é o agente mais importante da missão de acordo com a visão de Lucas, pois no dia de pentecostes, Cristo, através do poder do Espírito Santo, abre as portas e envia os discípulos para o mundo ( Bosch). Jorge Barro sem dúvida nos coloca na esteira de uma teologia bíblica da missão urbana da igreja trazendo uma vasta contribuição para a missão da igreja hodierna e para os eclesianos. Ele também enfoca que a missão deve ser a partir do Espírito Santo como também de uma pregação ortodoxa e sadia.

Ele mostra também que essa missão eclesiológica é feita de ação e por isso o Espírito Santo capacita a igreja a realizar sinais e maravilhas com um propósito claro para a salvação, pois a missão é para os outros e essa missão é para a cidade pois ela é central na teologia lucana. Outro aspecto de suma importância abordado por Jorge Barro é justamente o lugar do pobre na teologia de Lucas – Atos, pois Lucas dá bastante ênfase a eles e isso denota que eles eram presentes dentro e fora da comunidade a qual Lucas escreveu.

Esse olhar do autor deve ser percebido no contexto da missão urbana, pois como Lucas somos hoje rodeado de “pobres” em seu aspecto integral logo a igreja deve ter uma missão que é a missão lucana na perspectiva de ver como Jesus Cristo e a igreja primitiva virão o pobre, o excluído, o falido etc. A missão da igreja deve passar pela ótica integral lucana no modelo maior que é Cristo.

Uma das coisas importantes citado por Jorge Barro e que deve ter uma releitura entre os eclesianos hoje é justamente a importância que Lucas dava para os pobres em sua teologia. Lucas menciona e mostra quem são eles naquilo que Barro chamou de personagens tipo em Lucas - Atos. O autor citando John Roth nos dá uma visão dessa preocupação pobrística de Lucas. Ele define nove que são: os cativos, os machucados, os cegos, os surdos-mudos, os leprosos, os aleijados, os mortos, e os pobres.

Em suas “ Recomendações”, Jorge Barro diz que o movimento missionário do Novo Testamento foi um movimento urbano, pois ele se espalhou de cidade em cidade depois do pentecostes. Robert C. Linthicum citado pelo autor diz que “ a igreja é chamada a desenvolver sua missão no contexto urbano, á medida que o mundo se torna cada vez mais urbano”. Barro reitera dizendo que não podemos enfrentar os desafios que o contexto do mundo nos apresenta sem compreender as perspectivas missionárias que existem na Bíblia em foco “ Lucas e Atos” e perceber a missio Dei em Cristo e na igreja dos primeiros irmãos e aplicar “ práxis” na vida da cidade em todos os seus contornos integrais.

Para isso o autor citando seu tutor Charles Van Engen nos diz que não existe missão sem Bíblia, logo missão, Bíblia e contexto estão juntos e não podem ser dicotomizado pela igreja de hoje, pois a Bíblia é o nosso conteúdo, o contexto é a nossa arena e a missão é o que fazemos em nosso contexto ancorados e estimulados pela Bíblia reforça o Dr. Jorge Barro.

Não podemos esquecer diz o autor que a missão de Lucas é trinitariana e essa deve ser a nossa missão. “ Missio Dei, Missio Christu e Missio Spiritu Sancti”, só assim iremos integralizar os centros urbanos e glorificar o nome de Deus “ Soli Deo Glória”, fazendo a missão e abençoando as pessoas, ajudando os pobres e trazendo a consolação e a transformação que o evangelho faz.

Se a igreja não encarnar a missão lucana ela se torna irrelevante para o mundo e sua mensagem fica fragmentada e sem tempero. A igreja latina não pode esquecer os pobres e nem perder seu foco central de integralidade a partir da missão trinitariana.

Jorge Barro conclama a igreja brasileira a não perder essa visão do pobre e da missão, mais ao contrário disso incluir eles na sua agenda e comunhão, pois toda forma de modismo denominacional aleija a missão da igreja que é a missão trinitária na cidade. Ele mesmo encerra em forma de alerta e de oração dizendo: “ Que a igreja possa ser um agente apostólico da missão de Deus nas cidades do mundo, especialmente a do Brasil”.

Sem dúvida a contribuição que Jorge Barro dá para a igreja brasileira deve ser louvável, pois traz para o centro a importância de pensar a missão em forma integral e não denominacional. A igreja deve pensar a sua missão não a partir de um modismo e nem a partir de uma teologia gelada academicista que não dá um passo fora do gabinete ou sala de aula.

A igreja deve viver o evangelho integral na aglutinação da sua missão trinitariana. Pensar a cidade em termos teológicos e não só no âmbito sociológico é pensar a missão de Deus para essa mesma cidade na qual Barro aqui coloca.

O pélago da teologia da missão integral desenvolvida aqui por ele deve ser ventilada na igreja brasileira como missão a ser desenvolvida a partir de uma práxis bíblica. A grande diferença de ler a obra de Barro das obras da teologia da libertação é que ele não negocia a Bíblia em tom de melhoramento puramente social, Barro entende que a missão da igreja para cidade deve se a partir da Bíblia como chão seguro para toda missão.

Acredito que os eruditos da missão integral devem a partir da realidade brasileira escrever sobre missão trinitariana na cidade não em tom acadêmico mais em tom entendível. Acredito que os teólogos da missão integral têm compreendido que suas linguagens devem ser mudadas no sentido que devemos colocar dentro das nossas fileiras não só a intelectualidade teológica dos pastores formados diplomados mais os pastores que labutam nos cantões do Brasil que não tem formação e que precisam como os pobres serem ajudados.

Jorge Barro falou sobre a missão de Jesus de cidade em cidade em busca do fraco, do necessitado etc. Assim deve ser a igreja mais também os arquitetos da teologia integral e urbana. Devemos buscar os líderes e ajudar eles no nobre caminho trinitariano de levar as boas novas de cidade em cidade incluindo os pobres no campo teológico, os cegos no campo do ensino, os fracos que não tiveram força e chance para estudar numa escola formal, todavia são artesões da vida e da obra de Deus.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

Seminário Teológico do Sul - S.T.S.



Um comentário:

APÓSTOLO FRANCISCO disse...

Foram os indoutos que evangelizaram o mundo dos tempos bíblicos. E a mairia das igrejas evangelicas do brasil são homens sem letra e indoutos. Mas são homens que não ficam só atrás de púlpitos, eles pregam nos trens nas praças, nas ruas onde muitos "doutores" tem vergonha de pregar. Cristo tem confirmado a pregação desses com sinais.